O telefone.

            Vou me confessar ; eu nunca fui um apaixonado por telefone, embora o meu pai tenha trabalhado muitos anos na Telefônica Espanhola, por vinte anos .
            Me lembro ainda criança de ir visitá-lo no trabalho, pois era bem pertinho de casa, na cidade de Cádiz-Esp, e ele fazia questão de nos mostrar aquelas salas enormes , com corredores carregados de terminais e linhas, e ele se sentia orgulhoso, parecia que estava nos mostrando o Museu "Del Prado". Quando retornávamos a sua mesa de trabalho, sempre nos dava um lápis vermelho e outro azul , e um bloco de papéis para desenhar, enquanto ele acabava de despachar. 
              As linhas eram consideradas utilidade, e os aparelhos eram das casas e não das pessoas, pagava-se a conta como quem paga água ou luz.  Em casa havia um telefone preto, pendurado na parede, e para ligar para o meu pai, precisava subir em uma cadeira. 
              Hoje, pouco falo ao telefone, mas falei muito na vida, talvez isso tenha esgotado meu lastro, mas sempre fui objetivo, prático e curto nas conversações, nada de ficar na tagarelice de um papo de aranha "tecendo teia", não tenho paciência.  Agora imaginem como me sinto quando as atendentes me fazem esperar, ou toca aquelas musiquinhas, e disque 1 para x, 2 para Y, 3...um tormento a céu aberto. 
               Sou educado mas não gosto de alguns atendimentos, daquelas pessoas que dizem; " Olha campeão..." , respondo; " Nunca ganhei uma competição olímpica, não sou campeão e eu não te conheço", ou aquelas moças ; " Olha meu bem...", " Não sou teu bem, já sou comprometido ".
               Celular então...uso por necessidade, porque na rua não tem jeito, mas carrego cartão na carteira, pois às vezes esqueço de por na tomada, ou de colocar crédito. No trânsito nunca atendo, isso é ponto pacífico, pode ficar vermelho de tanto tocar, quero que se dane .
              Agora tenho visto gente falando pelas ruas como se não tivesse aparelho, e isso engana a gente. Vocês acreditam que um dia desses no Centrão de São Paulo, vi uma senhora parada no meio da rua, e ela disse : " ...mas eu não sei onde é a Quintino Bocaiúva...", eu quis ser gentil, com ela, e lhe respondi; " A senhora segue em frente e vire à ...", mas me interrompeu seca; " Não estou falando com você ! ", e fiquei com cara de idiota .
            A minha esposa fala com todas as amigas, usa o W.Sap direto, manda fotos, pega receitas , assiste até filmes , sabe de todos os atalhos e não vive sem o aparelhinho, quase não usa o computador.
            Estou tentando melhorar a minha relação com o celular , mas aos poucos ,pois não sou radical com nada, então não quero ser com isso também.
             
               
            

 
Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 29/06/2017
Reeditado em 29/06/2017
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