A bula de remédio e os efeitos colaterais
Já li bulas de remédio, como tenho dito e escrito. A princípio, eu as lia a pedido dos meus pais e amigos, na minha infância e adolescência, lá na zona rural, para saber como tomar este ou aquele medicamento. Com o tempo, passei a ler bulas de remédio pelo prazer da leitura, por vê-las sempre muito bem escritas e, além disso, para aprender mesmo. A gente aprende muito lendo bulas de remédio.
Eu, não somente as lia, como também as colecionava, guardando-as com carinho. Um dia, porém, desiludido, joguei tudo fora. Joguei fora as bulas de remédio e várias outras relíquias da minha coleção de absurdos escritos. Eu colecionava, sempre que possível, documentos e outros textos que encontrava com erros grosseiros de português.
Como disse, um dia, entediado de tudo e, momentaneamente, sem esperança de nada (hoje vejo que já era a depressão), joguei tudo fora. Rasguei e queimei, fiz sei lá o quê. Depois, é claro, veio o arrependimento, mas já era tarde demais. Tal qual na música de Altieris Barbiero, “Se amar é viver”, babau, cachimbo de pau. Irremediável.
Pois bem. Bons tempos eram aqueles em que eu lia bula de remédio por mero prazer e busca de novos conhecimentos! Hoje é diferente, eu as leio por necessidade de saber, principalmente, os efeitos colaterais do que vou ingerir. E aí moram o perigo, a chatice, o grande problema. Caramba, não é brincadeira, não! Dá para ficar deprimido, velho. Hoje, por exemplo, me aconteceu isso.
Fui ao médico, que me receitou dois medicamentos, dois remédios. Comprei e – diferentemente do que fazia antes – não os tomei antes de ler cuidadosamente a bula (nem depois, é claro). Sozinho e desamparado na sala do escritório residencial, fiquei, deveras, deprimido: os possíveis efeitos colaterais de um dos remédios eram inquestionavelmente muito piores do que a enfermidade que estou sofrendo. Resultado: decidi não tomar o remédio, pelo menos, antes de falar novamente com o médico. E fiquei arrasado, pois a enfermidade sofrida – um abusado e permanente desconforto gástrico e ferimentos bucais –, de fato, muito me está incomodando.
Eu, contudo, preferi continuar como estava (e estou) a correr o risco de sofrer, uma pequena parte que fosse, dos efeitos colaterais. Não vou nem enumerá-los aqui, Deus me livre! Dá medo e revolta. Vou mesmo ter que me submeter à endoscopia, aquela coisa maluca e tremendamente invasiva. É o único jeito, creio que é. E – é claro e evidente, para ser propositadamente redundante –, mesmo após a endoscopia, não tomarei os remédios eventualmente receitados antes de ler, atentamente, a bula de cada um deles e, se for o caso, falar com o médico.
Moral da história: voltei a ler bulas de remédios. Agora, compulsoriamente. É mole, ou quer mais? Não é mole, eu sei, mas eu lhe aconselho que não tome remédio sem antes ler atentamente a bula e, se for o caso, questionar o médico que lho receitou. Simples assim.