Melodia Fora Do Tom
Já não sei por onde andam os compassos do meu coração. Perderam-se à esmo em alguma melodia torta e sem sentido que perpetua sua imoralidade pelos bares da vida.
Desencontro-me, perdida e eviscerada, no labirinto de mim mesma. A essência rachou-me os lábios e impregnou-se no cheiro de cigarro e álcool que carrego comigo. Tornei-me apenas caricatura daquilo que fui um dia. Tornei-me espelho do que jamais serei. Com quantas decisões erradas é que se constrói um futuro, afinal? De quantas despedidas precisamos para ir de fato? Viver é um debochar obsceno e eterno, onde a razão somos sempre nós mesmos.
Aquele canivete guardado, agora tem poder de rasgar-me a alma. Aquelas memórias empoeiradas me açoitam como os chicotes da noite. E vejo tudo aquilo que jurei à mim não ser refletir-se no espelho.
Uso, indecente, uma xícara de café fumegante para engolir as verdades que dançam nuas à minha frente: Posso esconder-me de todos, exceto de mim.