Invisível que vejo
Vi a saudade estrangulando o orgulho em noites insones, e mesmo estando com a língua roxeada, dependurada para fora da boca, ele fazia sinal de joinha com a mão, alegando estar tudo bem.
Vi o ódio sendo acariciado pela mansuetude, e mesmo depois de pacificado ainda emitia grunidos e ranger de dentes para mostrar que era brabo.
Vi a frieza se encastelando em torres altíssimas, isolando-se do caloroso convívio conjugal e social.
Vi instintos construindo masmorras de arrependimentos, de onde ecoavam gritos e lamentos abafados.
Vi que não bastava ver, era preciso antever.
Prever previne.
Pressentir nos prepara.
Vi muita coisa antecipadamente, fatos que não se concretizaram por minha sagaz capacidade de abstrair do abençoado ato de ver.
Veja você também, está tudo aí diante de você, mas não basta só olhar, é preciso ver.