O tal dos 80%

Quando terminamos um relacionamento no qual colocamos muita expectativa e onde recebemos pouco ou nada de retorno, geralmente acabamos sempre sofrendo uma certa angústia, a que a grande a maioria sente no término de um namoro. Creio que, quando sofremos por amor, alguma coisa muda dentro de nós para melhor ou para pior. Tenho algumas convicções pelo que vivi. O bom da vida é cada pessoa tem uma forma de amar, entende o sentimento diferentemente. Quando duas vidas se unem neste propósito, nem sempre uma das partes coloca na relação aquele medo de sofrer, de encarar dias e mais dias sem dormir, da perda de fome e de sono, da mudança na rotina e até mesmo o convívio com a família. Algumas perguntas vão surgindo dentro de nós, algumas tão comuns e de respostas fáceis.

Onde foi que eu errei que meu namoro não deu certo? Será que sou uma pessoa tão ruim de conviver assim? Será que não posso completar ninguém? Estas são as perguntas que se referem à nossa auto-estima. Do lado contrário ao que sentimos, surgem dentro de nós muitas exclamações, tais como: quero que ele (a) seja feliz! Ele (a) deve estar com outro (a)! Tomara que ele (a) não consiga mais ninguém! Quero que ele (a) se lasque!

Enfim, tudo muda dentro de nós quando amamos e temos esse sentimento findado ou quebrado. Criamos expectativas várias em cima de pessoas totalmente diferentes, com falares diferentes, manias, visões, entendimento da vida, religião, gosto musical, lazeres diferentes. Unimos nossas vidas apenas por que queremos a pessoa. Acontece uma confusão dentro da gente que nos foge do controle em algum momento.

Geralmente falo muito, quero saber de tudo, pergunto coisas óbvias nas minhas relações, não por que eu queira fazer isso, mas por que minha essência é assim. Nem sempre as pessoas querem ou gostam de ficar conversando ou escutando muitas perguntas dentro de uma relação. Elas estão preocupadas é com o programa do final de semana, a roupa que irão usar, os lugares que irão frequentar. Ou então elas querem se dedicar à escola, ao trabalho, mas nada de falar do relacionamento.

Existem ainda aqueles (as) que querem apenas completarem-se aos seus parceiros (as) por causa do ato sexual. Considero a vida sexual fantástica de um casal como responsável por 80% da felicidade na relação. Os outros 20% ficam por conta da adaptação do jeito de um ao outro, manias, locais onde gostam de frequentar, afinidades em geral. Coisas que a gente aprende a gostar. Já o sexo ou é péssimo ou é ótimo, e quando é mais ou menos, um carinho ou outro pode aliviar um pouco a carga dos 80% que entendo que o sexo ocupa já que está acima de média. Só que chega um momento que se o sexo não for ótimo o amor tende a ser menos intenso, podendo uma das partes começar a idealizar outro parceiro (a) e isso é grave numa relação monogâmica. Quem ama não trai, não engana. Quem ama e cai na tentação é porque seu caráter ainda não está formado e se a pessoa não possui caráter e diz que ama, considero um amor de faxada, com data de validade prevista de vencimento.

Existem aos montes e já aconteceu comigo, onde depois me senti um lixo devido ao ocorrido. Mas eu só traí a quem nunca amei. Quem amo não traio, prefiro terminar um relacionamento do que trair a quem amo. Aconteceu a quatro anos atrás, eu amava mas não era completado na relação, tive que terminar, sofrer e arcar com minhas dores por que tive que liberar a quem eu muito amava. Este fato também é o motivo da minha extensa crônica.

O amor é um sentimento muito fino, puro, não pode ser de sufocar e nem ser de muita liberdade. Quem ama, ama pelo jeito, pelo tom de voz, pela doçura e carinho que há na relação. Talvez, um dos maiores problemas que a humanidade enfrenta não é o amor, mas a falta dele. Muitos poetas falam de amor, mas nem todo poeta viveu um grande amor.

Como pode uma pessoa que nunca viveu tal situação falar sobre ela?

Porque o amor é plural, existem várias formas de configurações de amor. Ele permite ser inventado, idealizado e reinventado. Não há regras para o assunto. Alguns casais costumam namorar por muitos anos, mas o que é então que faz com que este amor perdure tanto? Algumas respostas me ocorrem como paciência, respeito, afinidades, passividade, ambiente em que vivem, situação financeira, enfim, vários fatores.

Mas e o amor? Será que ele não está restrito a essas condições apenas por causa dos 80% que é de fechar o trânsito?

Enfim, cada qual com suas experiências e vivências, todas são válidas! Todas, sem exceções! Para que o amor aconteça, antes precisamos aprender a amar o cheiro da pessoa, a falta. Tudo que vivemos quando estamos distante da pessoa que amamos nos faz lembrá-la. Até que o pensamento volte a ser como antes leva um tempo. Uns conseguem rápido, outros demoram mais e há algumas pessoas que não esquecem nem superam nunca. Mas o importante disso tudo é que a ferida sara, a saudade diminui, a dor estanca. E outras pessoas surgem, e novas experiências, e assim vamos seguindo.

A vida foi feita para ser vivida, sentida, amada. Quando vivemos, sentimos e amamos primeiramente a nós mesmos, a dependência emocional que fica em nós em relação ao outro costuma ser menos agressiva. A auto-estima precisa estar equilibrada ou bem lá em cima, senão as perguntas que nos diminuem nos faz entrar num processo de loucura com agressividade. O ódio fica perambulando sobre nossa vida, querendo de toda forma mudar nossa essência. Algumas pessoas, infelizmente se entregam a ele, fazendo coisas terríveis, deixando o precioso sentimento se transformar em catástrofes irreparáveis. Não quero me prender na filosofia onde deveríamos conhecer a nós mesmos. Quando o assunto é amor, mesmo que conheçamos a nós mesmos, o que considero praticamente impossível em sua totalidade, quando amamos, queremos conhecer o outro. Também não deixa de ser uma forma de conhecer a nós mesmos tal procedimento.

E qual nossa reação quando as ações do outro não condizem com as nossas?

O quê tanto no outro que nos incomoda é parte do que conhecemos de nós mesmos. Existe só um caminho para entender o que a vida tem reservado para todos nós: a escolha. A carência pode nos levar a cometer danos irreparáveis em nossa vida, onde entregamos o que sentimos a qualquer pessoa apenas por conta de algo estético. No final de tudo, a estética a terra come, o gasto com a clínica ficará inútil. Será apenas só um mais um cadáver bem cuidado.

Quando amamos o que somos, sofremos menos em relação a tudo isto. É preciso aceitar as perdas da vida, as decepções. Devemos lutar para que elas não ocorram, mas caso ocorram, devemos lidar com elas da melhor forma possível. Decepção amorosa qualquer ser humano irá passar. O segredo é como passaremos por elas mantendo-nos de pé, com sorriso nos lábios sem ser aquele sorriso falso, como vemos aos montes. Os olhos de muitas pessoas falam, o sorriso mostra apenas os muitos dentes, mas a feição confessa. Mas isso seja talvez a luta da pessoa para que tal fase passe logo. Por isso vivemos num mundo totalmente sem sentido, onde falar dos sentimentos negativos ficou proibido. Ninguém deseja ouvir o lado negativo de uma relação, pensam que é assunto bobo. Já chamaram algumas das minhas poesias de depressivas, mas espere aí? A depressão não é poética?

As redes sociais acabam por tornar a pessoa falsa, sem opinião e morta. Ninguém vê ninguém triste nas redes sociais, apenas coisas boas são mostradas. O sofrimento precisa ganhar um espaço com quem possa ser dividido. Claro que não temos o direito de incomodar ninguém com nossos problemas. Aquele velho ditado: tome que o filho é teu! A solução que encontrei foi não incomodar ninguém virtualmente com meus problemas e dar mais atenção aos meus amigos com quem convivo. Primeiro a Deus agradeço, depois agradeço a todos eles que estiveram e estão comigo em todo o tempo. Foram quatro anos de muita ou angústia, profunda, que serviu para meu crescimento enquanto pessoa, ser humano. Me modificou muito, em excesso, mas mudei, o que considero a parte positiva, já que dizem que só os inteligentes mudam.

Expor o que sentimos de bom ou ruim é preciso em algum lugar ou espaço. Não se pode guardar mágoas, decepções, rancores, fracassos. Precisamos entender que para o amor não há barreiras e que apenas quem nunca negou a si mesmo que poderá viver tal sentimento de verdade. Falar de amor é a coisa mais complicada devido à sua pluralidade e conceitos internos. Cada um o entende de uma forma, isto que faz a vida valer a pena. A única palavra que explica o amor, no meu vago e incerto entender, é Deus, por que Deus é amor. Ainda estou aprendendo a lidar comigo mesmo em relação a isso.

Detalhe: meu namoro termino pela falta do sexo, não pelos 80% descritos aqui. Homem que não se garante merece saber disto! Eu sou e sempre serei fogo, não vejo tempo ruim para nada. De mais ou menos basta a vida, sexo tem que ser de fogo, de tesão, de suor, de realização. Dedos e línguas têm lá suas funções, mas não repararia jamais o que meu ser pede. Houve amor entre nós, o bichinho também sofreu, mas entre ele e eu, claro que escolhi ser quem sou. Doeu minha decisão, mas eu tive que ser homem em algum momento, afinal, estava faltando.

Daniel Cezário
Enviado por Daniel Cezário em 23/06/2017
Código do texto: T6035088
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