Chove lá fora.
Lá fora a chuva cai suave, serena, desde a madrugada, quase que ininterruptamente, o som da água batendo no telhado, molhando a terra e formando poças, em gotas contínuas. O ar já está mais frio agora, no alto do morro a minha frente a neblina cobre toda a imensidão verde, pequenas nuvens parecem subir de dentro da mata, misturando-se as nuvens já carregadas e enegrecidas. Deitado em uma confortável rede na varanda da casa, eu fico observando a chuva cair, tão lenta, tão suave, tão serena, parecem pequenas gotas de lágrimas caindo do céu. As nuvens choram sem parar, derramam das alturas celestes gotas contínuas de solidão, eu apenas observo, também estou só, uma solidão que eu mesmo escolhi. Ando sempre solitário por entre as multidões, em minha face estampei uma alegria artificial, mas por baixo dessa face existe uma contínua chuva de solidão, talvez uma tempestade que parece não passar. Meus pensamentos são meus tormentos nestes momentos de intensa solidão. Meus pensamentos são prisões e calabouços, nuvens carregadas de tristeza, chovendo as suas lágrimas de inquietude, o sol não vem mais, e a tristeza se apossou de mim, uma tempestade sem fim.
Mas lá no mais profundo dos meus pensamentos, quase que na divisão da alma com o espírito, lá se encontra certo anjo ledo, cabisbaixa em um canto, face resplandecente, olhar reluzente. Lá nas profundezas se encontra esse anjo ledo, meu amor de primavera, que outrora devastou-me por inteiro como uma grande tempestade, mas que agora é como essa chuva suave, que permanece, que não passa.
Lá fora a chuva continua a cair, o frio se intensifica neste momento, preso nesta chácara, preso nesta casa, preso nesta quietude, preso em minhas lembrança que não passam, que teimam em doer em meu peito, que teimam em cair como a chuva no telhado. Sua face não sai do pensamento, e meus pensamentos teimosos te procuram em cada canto da memória. Você sempre está lá, no mesmo lugar, com o mesmo sorriso, com a mesma beleza que dói tanto dentro do peito.
Que me vê não me enxerga, não percebe o abismo que há dentro de mim, não percebe que la dentro do meu coração, em cada desritmada batida, existe um grito desesperado de amor, um grito silencioso, assim como a chuva que cai lá fora, tão calma e suave, entretanto, em toda essa calmaria existe uma intensidade muito forte. Eu continuo na rede, balançando de um lado a outro, observando as gotas de chuva na grama verdinha, as lágrimas das nuvens também são as minhas. Sou apenas esse poeta sem palavras, uma folha seca ao sabor do vento, nuvem carregada de tristeza, carregada de um sentimento que com palavras fica difícil de descrever.
Mas a chuva cai lá fora anjo ledo, meu coração arde de amores por ti, arde de desejos de tê-la em meus braços, então me perco nesses meus pensamentos imperfeitos..
Quisera eu neste momento, me aconchegar em teus braços, e me perder em teus abraços. Enquanto a chuva não passar eu continuarei aqui, neste mesmo lugar, nesta mesma rede, ouvindo o som da chuva cair, ouvindo o som do meu coração, e a dor do amor se intensificando cada vez mais dentro de mim.