Ode à Mùsica em concerto
Plateia em silêncio, quase em oração, respira com cuidado, para que o encanto não se esvaia. É chegado o momento da entrada solene de seres quase sobrenaturais, com nobres instrumentos e presença alada.Uma onda de empolgação invade a sala.
O maestro se inclina com a batuta em punho e, de repente, um único som, o mais real e tridimensional, ocupa todo o espaço. Muitas pessoas sentem arrepios, outras seguram a respiração. É inexplicável o dom de tirar de cordas, de teclas, de sopro, a mais profunda melodia, em harmonioso equilíbrio, em obediência às leis do ritmo e da vibração.
As notas se enlaçam, os sons se multiplicam, atingem o coração e comovem a alma. Todos os sustenidos têm uma linguagem: às vezes, a doce nota de um suspiro, de uma saudade; outros galopam com o vento ou como uma brisa beijando uma flor. Muitos evocam o cantar do rio de voz cristalina ou o crispar do fogo que tudo devora e até o eco do raio que ilumina o céu.
A música é sentida como se fosse algo físico que entra pelo ouvido, mas flui dentro de cada um e faz os sentidos vibrarem. A imaginação sai a percorrer caminhos inesperados. Velhas emoções invadem o coração e se ampliam, despertando a saudade do que foi vivido e do que nunca se viveu.
Melhor do que a palavra, a música representa o movimento que é a lei da vida. É a arte mais perfeita, por combinar sonoridade e silêncio. Os doces acordes fazem com que se encontre a felicidade por um momento e provocam o gesto espontâneo: aplausos de pé!