Ego: um péssimo conselheiro?

Freud descobriu, ou "inventou", que o psiquismo humano tem Ego, Superego e Id; isso foi no fim do século XIX, quando este gênio da Áustria legou a Psicanálise ao Mundo contemporâneo. Quando digo "inventou" é pelo fato de alguém precisar dar substantivos novos na falta de bons nomes.

Eu, que já fui paciente de psicanalista, durante 2 anos, entre os meus 17 aos 18 anos, ao ler Freud, por curiosidade, sempre dei importância para o Id, achando que o Princípio do Prazer era mais forte que tudo. Eu sempre me policiava e, por meio do hedonismo, típico da vida universitária, acabava com problemas morais - pois meu id sempre conseguia burlar meu princípio de realidade.

Mas o protagonista é o Ego; só assim pude entender parte do meu processo psíquico. O Ego é um parasita de energia interna e externa na forma de pulsões que o estabilizem - que sempre são confundidas com erotismo por si. Vive em crise por construir fantasias de que não é amado pelos objetos externos de catarse ou se perde em desejos de eliminação daqueles que impedem o êxtase de submissão de nossos objetos de desejo (uma tendência animal e irracional - masoquismo e sadismo dentro do intelecto). Todas as crises são infantis com círculos pensamentos que são destemperados: ou seja, sempre são decorrentes de falta de atenção e afago materno que buscamos, projetando inconscientemente, nas nossas relações (inclusive aquelas que não deveriam nunca ser assim: o ambiente de trabalho, um local no qual o princípio de realidade, a resiliência, a capacidade de admitir erro, o altruísmo do trabalho em equipe - deveriam estar muito acima de mimos aos nosso ego; querem sempre prêmios e humilhar nossos companheiros fundamentais para uma empresa caminhar). Pessoas ególatras intoxicam ambientes, sejam familiares ou empresarias - até religiosos!

O Ego depende totalmente da mãe (ou sua substituta), até o desmame do ser humano. Até este momento, a mãe alimenta não só de leite, mas de carícias - dando ao ser humano sua propensão a depender de afagos de outros (pois mãe, não é eterna fisicamente - mas é introjetada como tatuagem no psique). E, segundo até Santo Agostinho, em Confissões, disse que o choro é um pecado imanente do ser humano: o de achar que tudo está a nosso dispor, no momento que nossos desejos do Id mandam.

Klein, psicanalista infantil, afirma que a criança chega a agredir o seio por vingança! Irrita-se com a demora. Berra! O que os adultos veem como algo inocente, e mesmo um teólogo com Santo Agostinho já afirmou, é demonstração de egocentrismo - que seria, segundo o religioso, a manifestação adâmica da decadência de todo ser humano.

Muito oportuno observar o zelo da maternidade dos animais, onde, alguns deles, são cercados de cuidados infantis; porém, abandonados e nunca mais vistos pelos pais, após a idade adulta.

Já o ser humano é extremamente dependente dos pais e infernizado, inconscientemente, pelo complexo de édipo.

O Ego é narcisista por excelência, ou seja, namora consigo mesmo, sendo regido ou por ansiedade ou satisfação, por conta do Id, este sim, seu refém, não o contrário. O ego é faminto de elogios, de prazeres sensoriais, de prestígio social - mas tem angústia persecutória por tomar consciência da morte de amados e de si mesmo - um lei da natureza, que não está nem ai para o ego.

Porém, o Ego cria reservas de estima por si, como o corpo faz com gordura. O Ego cria um conjunto de estímulos passados que o alimentam num período de crise narcísica, que é quando dependemos dos outros para abastecer nossas reservas, e não mais da mãe. O ego pode ser obeso ou magro. O ego pode sair da realidade, com fantasias que o alimente.

O outro é o nosso inferno, como diria Sartre. Aí está o dilema da morte da mãe. As boas mães não serão imitadas por professores, patrões etc. O excesso de dependência da mãe, na idade adulta, é o passaporte da neurose e da psicose (sendo a psicose mais bioquímica e genética - que ambiental; porém, a esquizofrenia pode ser causada por traumas psíquicos de intensidade alta).

Não se sabe quando o ser humano formou o Ego, com a verbalização que lhe é meio de contato com o mundo externo. O ego é uma sala de jantar de família, onde todos comem com talheres - sendo que na primitividade, as caças eram rasgadas e obtidas com lutas sanguinárias entre pessoas e animais. Mas verbalizar é mascarar e algo cultural, desde o surgimento da civilização e dos papéis sociais na estratificação do poder econômico, ou seja: a linguagem é parte da vida psíquica, mas não é profunda (não diz tudo - mas sim, mascarando - coisa que o corpo e sua postura falam o contrário ao psicanalista e ao observador arguto).

O mundo externo passa a ser o objeto do Ego, que se concentra em pessoas ou coisas - a partir do envelhecimento ou morte dos pais, do nosso casamento e de toda separação inevitável da família sanguínea. Pessoas que alimentam o Ego e coisas que o alimentam também, mas isso sem, em alguns casos, elas saberem (o fetichismo e o voyerismo). Ou a irritação pela falta de reciprocidade afetiva (como protestamos quando somos bebês em relação ao seio da mãe que não é dado na hora que desejamos - atrasa e nos aborrece - onde gritamos ou surtamos, segundo Klein e Agostinho).

Dessa maneira, há pessoas com maiores reservas de estímulo de ego que outras - que incluem circunstâncias econômicas e de maturidade familiar. Há pessoas com Ego cheio e outras com Ego vazio - que seria uma falta de temperança e de princípio de realidade (ou mesmo de convivências tóxicas - fazendo que muitos sejam as personalidade introvertidas que C. G. Jung descreveu, a exemplo dos monges, dos eremitas etc.).

As com Ego vazio são ansiosas, depressivas ou eufóricas, sendo sugestionáveis por pessoas sádicas e de má inclinações. As com Ego cheio são entediante por se auto elogiarem, mas num primeiro contado, encantadoras ou chatas mesmo. Podem ser pessoas com tendências perigosas e com desejo de submeter pessoas com personalidade débeis. Pessoas que não possuem segurança de si, de metas, de necessidade, de responsabilidade diante daqueles que necessitam dela; estas são alvos dos "cheios de si" (calculistas e irascíveis).

Pessoas com Ego vazio se voltam para o mundo interior ou tentam criar algo que façam que sejam notadas e alimentadas. Muitas são autoflageladoras, hipersensíveis às opiniões dos grupos e vivem como seres que não são donos de suas vidas (embora os ególatras sejam fragilizados por infortúnios da vida - como crises econômicas que as arruínam involuntariamente, mortes de pessoas amadas - levando sempre a projeção da culpa em algo fora de si - com repercussões interpessoais e até de ideologias).

Para mim, analisando de psicanalista, as pessoas são condicionadas a alimentarem seu Ego com pessoas e coisas ao seu redor, o que pode ser a chave para explicar a inveja, o egocentrismo, a cobiça e a introspecção. Todo comportamento humano tem uma dose de inconsciente. Somos donos de sentimentos antissociais, sem querermos. Defendemos nos egos involuntariamente com posições, conforme a nossa personalidade. A nossa personalidade é uma construção dentro de um dado tempo e espaço que estamos inseridos na vida, que é basicamente o perfil das nossas respostas aos estímulos externos. Na maioria das vezes é dado o vampirismo de energia do outro que é sadismo - muito presente no que se convencionou a chamar de formação reativa, por parte de Ana Freud (mecanismo muito parecido com a inveja).

Saber manipular os objetos do Ego é a chave da cura do divã. Cura é suportar bem um trauma e não eliminar este trauma. Em especial, saber desviar a energia bloqueada nas frustrações (recalques) em direção à compensação e sublimação.

Especialmente sagaz é evitar os ambientes tóxicos, como empresas, famílias e casamentos - os quais são os maiores desafios ao nosso livre arbítrio, coragem, inteligência de manipular nossas emoções - numa forma darwinista de adaptação ao meio ambiente. Mudar de ambiente e objetos: eis a questão!

LUCIANO DI MEDHEYROS
Enviado por LUCIANO DI MEDHEYROS em 18/06/2017
Reeditado em 20/02/2024
Código do texto: T6030776
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.