O mundo é redondo
Eu estava lá pela minha fácil vida difícil, patinando no parque com as crianças, uma coisa relativamente rotineira e muito prazerosa na época.
Tantas coisas boas aconteceram naquele tempo! Aquele parque parecia um telescópio; a cada fim de semana eu descobria algo novo nele que me encantava. E isso durante muito tempo. Frequentei o parque por anos durante o fim de semana. Num belo dia, estou eu deslizando pelo asfalto quando sou inquerida por uma pessoa marcante. Olhos incrivelmente azuis, alto, bonito de ser ver e, enfim, difícil de se esquecer. Mesmo para uma pessoa assim como eu totalmente desligada e péssima fisionomista.
- moça por favor, você sabe o nome dessa árvore? Estou com alguns turistas e eles gostariam de saber qual é o nome dessa árvore e não tenho essa informação no momento. Sou até meio ligada nisso mas nem me lembro o que respondi e esse fato foi para alguma gaveta no arquivo da memória, com uma alguma inquietação: o esforço que ele estava fazendo para conseguir satisfazer a curiosidade dos turistas. Mas... fato esquecido lá no fundinho da gaveta do arquivo da memória.
Tempos e tempos se passaram e eu ressabiada, depois de tanto tempo sem estudar, fui prestar vestibular numa faculdade porque estava próximo de casa e seria mais fácil para conciliar o curso com as minhas obrigações da rotina diária. Dentre tanta opções, qual curso? Depois de verificar as grades curriculares optei por Gestão de Turismo. Pois bem! Formada, Credencial de Guia de Turismo na mão, fui tentando me incluir na área vindo fazer parte de um grupo de Guias onde sempre fazemos visitas técnicas para aprimoramento. A visita da vez era no parque da Cantareira Núcleo Engordador. Ah, essas visitas técnicas são sempre preciosas! Conversamos muito sobre o mercado de trabalho, fazemos novas amizades e confraternizamos sempre.
Nesse dia um moço com o qual já vinha me relacionando por questões da profissão, alto, de impressionantes olhos azuis, contava uma das suas experiências de trabalho.
"Tinha uma amiga que não conseguia entender muito bem o trabalho que ele fazia; desafiou-a então para participar de um guiamento com alguns gringos e eles foram para o parque, claro; quem é daqui não pode deixar de ir, imaginem então vir de fora e ir embora sem ter ido ao parque!
No final do guiamento questionou-a se havia gostado e ela se disse encantada; mas muito, muito admirada mesmo do esforço que ele havia feito para tentar passar para os turistas o nome das árvores do parque.
porque quando ele não sabia, ele parava as pessoas que estavam circulando e perguntava se elas sabiam."
Fiquei imaginando a cena e aquilo me pareceu familiar; foi necessário algum tempo, mas aos poucos a gaveta certa do arquivo se abriu.
Achei incrível! Como tanto tempo depois viria eu me encontrar com aquela mesma pessoa participando do mesmo tipo de trabalho!?
E uma questão ficou no ar, será que ele se lembrou de mim? (ainda não perguntei).