MEU AMIGO VALDECI.
Manhã de segunda-feira, um dia pouco agradável, lembrar que temos a velha rotina pela frente, trabalho, escola, compromisso, e por aí vai se estendendo a lista. A expressão que geralmente fica estampada na face das pessoas é de um desanimo gigantesco. A minha rotina já se iniciou, e sem que eu perceba, quase que mecanicamente, eu já me encontro no ponto de ônibus para ir trabalhar. Enquanto o ônibus não aparece, é possível ver e fazer uma análise rápida de cada um só pela expressão de sua face, umas refletem desespero, outras sonolência e quase sonambulismo, outras mais irritação. Existem um número raro de pessoas que conseguem manter o alto astral em plena segunda, fazem piadas de tudo, riem, cantam, se divertem. Essas raridades não parecem importar-se com as agurias do dia a dia, parecem não sentirem o efeito da rotina maçante, nada pode afetá-los, são praticamente blindados e no que desrespeito as emoções da vida, nada podem contra essas pessoas. Então veio a inevitável pergunta; qual é o segredo?
Digo isso, e iniciei minha crônica nessa temática, porque justamente onde eu trabalho existe um senhor assim, existe essa mesma realidade, a maioria e porque não dizer noventa e nove por cento do grupo são afetados por esses sentimentos negativos do dia a dia. Mas, como toda a regra tem uma exceção, no meu setor e entre meus amigos essa exceção chama-se Valdeci, um simpático senhor já cinquentenário, calvo, baixo e muito sorridente. Este espetacular ser humano jamais fica triste, nunca o vi cabisbaixo em todos esses anos de trabalho e convívio. O senhor Valdeci sempre está disposto a qualquer coisa, a qualquer atividade, ele nunca reclama, está sempre pronto a ajudar, e com muito bom humor por sinal, trabalhar com ele é rir o dia todo, é alegria garantida, é também ouvir histórias muito engraçadas, duvidosas às vezes, porém, extremamente engraçadas. O senhor Valdeci é completamente o oposto, negando a lógica da segunda-feira tediosa, vendo isso, eu fico confuso, sem uma compreensão de qual seja o segredo da felicidade, que igualmente a todos nós, o senhor Valdeci está sujeito às mesmas mazelas da vida.
Não sei se existe uma resposta coerente e que de fato explique essa alegria transbordante e extrapolada de meu amigo. Eu não o conheço tão bem assim, mas o pouco que sei a respeito dele, a sua vida é como a nossa, ele tem esposa, filha, parentes, e consequentemente, um montão de problemas, mas nada disso parece afetar esse senhor que está sempre sorrindo, volto a repetir, o senhor Valdeci parece imune às tribulações do dia a dia. Então como entender isso?
Alguém me disse outro dia que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero, perdoe-me o amigo que disse isso, mas o senhor Valdeci colocou por terra essa teoria sem sentido, as risadas dele não são de desespero, é de uma alegria verdadeira. Mas o fato, e talvez o que poucos percebam, o senhor Valdeci é muito temente a Deus, um católico muito fervoroso, que está sempre tentando ajudar o seu próximo, isso por si só, responde todas as perguntas, fica claro que a alegria dele, não vem dele mesmo, mas de Deus.