QUALQUER MOMENTO PARA ESCREVER
QUALQUER MOMENTO PARA ESCREVER
A necessidade prazerosa de escrever, sobretudo agora que os meus sessenta anos carnais obrigam-me a aposentar nos arquivos da memória, a profissão que exercia, me vem a qualquer momento. Não, que ela não me viesse antes, em algum instante de inesperada inspiração, porque a arte de escrever literariamente me ocorre desde a pré-adolescência quando coloquei no papel os primeiros rabiscos poéticos, mas sim, porque a vida (no meu caso), não se resume só em escrever, tendo desse modo, que ajustá-la diariamente com outras atividades, quer sejam profissionais, quer sejam de lazer, ou até mesmo segundo os limites da vida carnal ativa de quem, como eu, que já aprendeu um pouco das lições de vida, sem, no entanto, deixar de continuar aprendendo-as, só que, agora, da forma mais conveniente para quem está no início da chamada terceira idade.
Têm pessoas que se aposentam só para não terem mais o que fazer, só para ficarem com as suas vidas ociosas, ou estagnadas dentro de casa, ou perambulando pelas ruas sem um rumo, sem um objetivo sensato de vida que possa valorizar a própria vida em seu sentido carnal e espiritual. E justo por não terem o que fazer, a despeito de serem aposentadas, por não se ocuparem com alguma atividade que lhe exercitem os corpos físicos, ou outra tarefa que lhe ofereçam bem-estar interior vinculada à espiritualidade, acabam se entediando, acabam sentindo o peso doloroso da ociosidade senil. Se esquecem essas pessoas, que a vida carnal existe para ser movida, que ela é plena de mobilidade existencial, mesmo que o fluido vital que as sustenta, seja abundante em umas pessoas e em outras não seja, ainda assim, vale a pena mover-se em qualquer idade, beneficiando a própria saúde carnal.
Estou lhes abordando estas coisas, caros leitores, não porque seja um exemplo de aplicação prática da vida ativa, apesar de já ter tido uma vida bem ativa, só que hoje, nem tanto. A profissão que exercia era de mover-se bastante, tanto física quanto mental. Andava muito na execução dos serviços, instalando e visando o instrumento óptico, me comunicando com as pessoas, fazendo croquis, anotando dados e depois trazia tudo isso pro escritório para elaboração do projeto, que podia ser rural ou urbano. Antes de exerce-la, fui atleta amador, pratiquei várias modalidades esportivas, dentre as quais, as que mais atuava era futebol e atletismo, através de jogos estudantis, jogos abertos, torneios intermunicipais e o habitual baba diário nos fins de tarde. O esporte, deixei-o de praticar (e foi um erro meu), com trinta e poucos anos. Quanto à profissão, que não era sedentária, a deixei de exercer com cinquenta e cinco anos.
Então o que ocorre: cada um de nós, além de herdar, propicia as anomalias genéticas, fruto dos vícios mundanos, da alimentação inadequada, dos desregramentos, dos excessos, enfim, das agressões nocivas à saúde física. Daí, a partir dos cinquenta anos, o organismo começa a entrar em declínio e os problemas começam a aparecer. É quando cada um tem que rever os hábitos, pra que possa ter uma melhor qualidade de vida. Eu mesmo, que tenho dores reumáticas e a pressão arterial subiu recentemente, preciso rever esses hábitos, porque estou levando uma vida sedentária e o peso está um pouco acima do normal. E aí, pra recuperar e manter a saúde orgânica, tenho que tomar remédio pra controlar a pressão (já está controlada), pra baixar o colesterol e o triglicerídeos ruins, mudar a alimentação, fazer caminhada, até porque, a glicose passou um pouco do limite normal, o que faz com que eu seja um pré-diabético, e isso significa que, se eu não cuidar, fico diabético.
Todos nós temos a saúde alterada em vários momentos da vida (principalmente e mais constante na terceira idade), e não temos o hábito de exercer a medicina preventiva, acabando por se ocupar só com a curativa, o que agrava mais ainda o bem-estar físico, que, em muitos casos, devido a gravidade do problema, nem a curativa o soluciona. A vida carnal, sabemos, não é pra ser vivida pra sempre, como a vida do espírito que habita em nós e é eterna. Entretanto, a vida carnal deve ser preservada em sua longevidade, não só pela sensação agradável de se viver, mas também porque o espírito que nela habita, ainda que momentaneamente, precisa dela pra exercer a aprendizagem evolutiva pelas lições de vida que experimenta ao longo da existência corporal. O ser principal e eterno é o espírito. O ser secundário e efêmero é o corpo físico. Devemos entender portanto, que as ações humanas, boas ou más, ocorrem pela manifestação inteligente do espírito.
Como o espírito que habita-nos, ainda não se livrou de sua imperfeição moral, compreendo que o grande causador das mazelas espirituais e carnais que se acumulam nas duas vidas distintas, é o próprio ser espiritual. Então, a forma mais eficaz de tratamento do homem para mantê-lo saudável, não deve ser iniciada em seu corpo físico, mas sim, em seu espírito, à medida que se depura aos poucos pelos ensinamentos morais que assimila, resultando numa vida salutar do espírito (essência eterna) para o perispírito (corpo celeste que o reveste), e deste, para a forma física humana. Penso que, o fato de se dizer genericamente que tudo é perfeito a partir da Perfeição de Deus que Cria todas as coisas, é para ter-se a convicção de que, sendo Deus, Eterno, então, tudo que Deus Cria, é também eterno.
Como ressalva, acresço que, mesmo sendo Deus, o Supremo Paradigma da Perfeição Absoluta, Ele próprio cria o desenvolvimento das coisas, a construção e reconstrução incessante do Cosmo, residindo assim, na Perfeição Divina, em minha opinião, a imperfeição momentânea das coisas, até o alcance da perfeição relativa dessas mesmas coisas, como ocorre com a morte física, pela integração e desintegração da matéria, para depois reintegrar-se em novo ser carnal, como ocorre com a caminhada do espírito, partindo do seu evoluir primitivo, para após, transitar pela vivência inferior, regenerativa, superior, até o alcance pleno de sua pureza moral. E, neste sentido, nós temos o Mestre Jesus como guia e modelo espiritual, como exemplo máximo de perfeição moral.
Escritor Adilson Fontoura