ALICE SOMENTE MARAVILHOSA?
Realismo maravilhoso ou mágico: fusão na realidade cotidiana.
LEWIS CARROL (1832/1898), autor de “ALICE”, na verdade um professor de matemática na Universidade de Oxford, escreveu, além de Alice no País das Maravilhas”, publicado em 1865, e “Alice no Espelho”, muitas obras, a maioria sobre difíceis questões de sua disciplina. O primeiro dos grandes fotógrafos (arte-novidade), em especial de crianças - a pequena Alice Liddell, então com 10 anos de idade, se tornou a heroína e primeira leitora das ’alices’... O amor de Lewis pelas meninas era natural, sem interpretação pedófila, ele mesmo eterna criança em temperamento. Não casou, era profundamente religioso e preferia viver afastado do mundo exterior.
Dois livros de fantasia e do ‘nonsense’ (absurdo), estória atemporal, embora escrita na era vitoriana inglesa - lúcida crítica aos costumes ou equívocos da civilização da época, atingindo especialmente as falhas de ensino vigente - transfiguração simbólica das situações reais: originalidade, inesperado e comicidade. As aventuras estranhas da protagonista se explicam no sonho, mas numa concepção mais séria da língua, com muitos jogos de palavras intraduzíveis. O personagem Humpty Dumpt, em poema curioso, explica amavelmente a Alice as possibilidades do mundo do sonho, brincadeira feita de palavras encaixadas, em que ‘slithy’ significa ‘slimmy’ (viscoso ou lodoso) + ‘lithe’ (flexível ou ágil) - chamada palavra-cabide porque pode pendurar muitas coisas... Técnica usada em “Finnegans Wake”, último romance de JAMES JOYCE, que relata o sonho de um adulto: como funciona a mente humana nesse estado. A Alice do livro não é uma menina boazinha - é mordaz (sarcástica), autoritária e orgulhosa, nada humilde, e sem medo, como traço do espírito imperialista britânico. Quando a Rainha, referindo-se a ela, grita “Cortem-lhe a cabeça!”, a resposta corajosa é “Vocês não passam de um baralho!” - em torno de sua cabeça gira um monte de pedaços de cartolina que num minuto antes era uma sociedade imperialista. Alice é transportada para um mundo colonial onde reina a loucura, mas não perde inteiramente o bom senso, muito britânica, muito vitoriana.........
FONTES:
Livros “Panorama histórico da literatura infantil/juvenil” e “A literatura infantil”, de Nelly Novaes Celho - SP, Edições Quíron, 1984 // “Alice, o outro lado da história”, artigo de Anthony Burgess - O Correio da Unesco - ano 14, jul.-ag./86.
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