"Meados da Loua Cheia"
...Nos últimos dias tenho visto circular nas redes sócias uma suposta tese de um suposto professor (Leandro) da UNB, que relata uma estória como se verdade fosse sobre as oferendas oferecidas pelos adeptos das religiões de matrizes africanas as suas divindades (Orixás).
Afirmando que as origens da pratica das oferendas inicialmente eram uma forma de alimentar nas estradas escravos fugitivos.
O que me chama a atenção além das sutilezas preconceituosas existentes no tal texto, a total falta de conhecimento do tal "pesquisador/historiador" ao usar a palavra MACUMBA para denominar de forma preconceituosa as oferendas.
Talvez este "bem intencionado" professor em meio a sua "pesquisa" tão "complexa" (para não dizer rasa), deve ter esquecido de pesquisar que a palavra MACUMBA, tem sua origem numa árvore nativa da África e também num instrumento hoje utilizado por músicos/percussionista/ritmistas no mundo todo, com o mesmo nome.
Instrumento este (MACUMBA) usado em rituais de religiões de matrizes africanas.
Vejo com bastante preocupação tal disseminação que tem como objetivo dar aos incautos (ou preguiçosos/acomodados) uma equivocada visão de que as oferendas não tem valor religioso e devam ser tratadas como dejetos, lixo e que a pratica deste ato é apenas uma repetição folclórica dos adeptos das religiões de matrizes africanas.
Uma sutil e perversa forma de descrédito da seriedade destas religiões, seus sacerdotes e adeptos.
O Brasil no que tange a sua cultura deve muito as religiões de matrizes africanas pela preservação da nossa cultura e construção da nossa identidade, através dos seus, rituais, culinária, música, dança e preservação da língua Iorubá e introdução desta no português falado no Brasil.
Sem está preservação e preocupação, não teríamos o Acará/Acarajé, Caruru, Munguzá, nossas danças, ritmos, musica, língua, e está rica diversidade cultural.
O flagrante desconhecimento sobre as religiões de matrizes africanas e seu comportamento para com o próximo, deste suposto "mestre" é que se ele de fato fosse fazer sua pesquisa na fonte (Terreiros e Centros de Umbanda , Tambor de Mina, Batuque e outras) ele saberia que um dos fundamentos e princípios destas religiões está em ter respeito com os alimentos e fazer com que estes sejam divididos com todos sem distinção.
Está pratica e ensinamento não ficou no tal passado que ele cita, ela é uma pratica e um ensinamento presente ainda hoje, passado aos adeptos e visitantes, que lá são recebidos e comem da mesma comida que todos comem, que também é distribuída pela comunidade extra muro.
Talvez quem sabe está sua preocupação em dizer que não tem religião, possa ser e desculpa de não ter feito uma pesquisa In loco e assim trazer aos "incautos" e os de olho bem aberto como eu, uma tese rica, com embasamento e cheia de boas intenções.
Mas...
Infelizmente diante de tudo que li ou na minha humilde ignorância compreendi.
Não passa de mais uma estória onde o contador é o mesmo opressor, preconceituoso de sempre, que de tempos em tempos surge das sombras, em suas diversas faces, Senhor de Engenho, Capataz, Capitão do Mato, Delegado do Estado Novo, Neoreligioso cheio do "espírito santo" e agora "professor/historiador.
Lamentavelmente está pratica preconceituosa de tratar a cultura negra, seus difusores e sua religião é uma herança maldita que teremos que conviver ainda no Brasil por muitos
muitos séculos.
Esta mudança mesmo que leve tempo é responsabilidade de cada um de nós.
"...A mudança vem de longe, com os ventos do querer.
Cabe a cada um de nós estarmos abertos às mudanças dos ventos e das marés.
Enquanto nos portarmos como quebra mar e não buscarmos ser embarcação direcionando nossas velas para os ventos do querer, continuaremos sentados na pedra do Porto escutando estórias contadas por quem nunca se lançou ao mar aberto do conhecimento..."
("*Meados da Loua Cheia", Carlos Ventura)
* Título usado pra homenagear o Poeta Baiano Dorival Limoeiro/Dori.
Em alusão a um dos seus poemas.