SOBRE A INCOMPREENSÃO

SOBRE A INCOMPREENSÃO

Costumo dizer que viver sem conviver, é repúdio disfarçado, é amor falseado, é um adeus antecipado; tanto porque ninguém é único no mundo. Por mais sós que nos achemos, não viemos do nada, temos ou tivemos pais através dos quais fomos gerados; assim como as plantas não germinam sem que a semente seja introduzida ao solo, também, não podemos ter uma vida, nascer; portanto, não existimos sem a procriação. Nascer, existir caracteriza viver, enquanto que conviver é a essência da vida. Não se vive sem contatos, sem relacionamentos, sem a dependência de outrem; somos seres sociáveis, introdutórios à convivência a partir do nascimento, do existencialismo. Endosso, dessa forma, a minha frase inicial, salientando que o conviver não é apenas o estar, mas, sobretudo, o adentrar nos propósitos de humanidade, e adaptação aos seus princípios.

Vemos famílias dispersas de sua familiaridade, do seu conviver, aparentando até um grupo de pessoas sem nenhuma afinidade; daí a presença não materializada, mas construída nas ações de cada um, da incompreensão. Família é uma constituição imprescindivelmente digna do bom, fiel e sincero relacionamento, vindo de início para essa efetivação, o amor. Não vejo, nem sei se existe razão para uma mãe ou um pai não amar ao filho ou à filha, em razão desses, também aos seus netos e às netas. Não vejo, nem sei se existe razão para um casal, reciprocamente, mulher, homem e vice versa, quando assumida a convivência a dois, seja por qual via for, não nutrir sentimento afetivo, até porque se casaram e casar é unir, e daquela união procriaram outros seres, inocentes que de ambos receberam os ensinamentos, os exemplos, a orientação para a vida; pelo menos assim é que deve ser, conforme os princípios que se nos foram ensinados por Deus.

Sequenciando essa pequena dissertação, gostaria de citar experiências, não necessariamente próprias ou vividas, mas essencialmente assistidas em convivências várias e aleatórias. A palavra, “amigo” é muito comum entre as pessoas, a sua articulação vocal, todavia, assim como já diziam e ainda dizem poetas e escritores, é palavra fácil de pronunciar, mas qualidade muito difícil de encontrar. Diz-se, também, que quem tem boca “diz o que quer”, o que não deixa de ser uma verdade; tanto é que vemos tantas amizades, que eu chamaria mentirosa, por aí a fora se definhando, se desfazendo por motivos fúteis contraditoriamente à relevância que poderia e deveria ter. É de conhecimento, público e notório, fatos de fortes relevâncias à falta de amor; filhos matam pais e vice-versa, sangue do mesmo sangue, mas com perda de toda originalidade. Cônjuges se destroem mutuamente nas formas mais trágicas e inconcebíveis possíveis. Pior, apenas esse pequeno detalhe, não é o foco do assunto, que as leis existentes não são cumpridas, além de tantas outras que necessariamente deviam existir, mas para ser cumprida, evidentemente.

Motivos! Inexplicáveis, apenas diz-se, por interesses financeiros ou passionais é que levam a esses tristes, cruéis e lamentáveis acontecimentos. Deixemos de lado esse fator trágico e adentremos atentos na convivência comportamental da família. Casamento é coisa séria, mas muitos ignoram e ou fingem ignorar. Ninguém é igual a ninguém, aliás, nada, por mais parecidos que sejam; não são iguais pessoas, objetos, tudo enfim. Vemos uma semelhança impressionante a que chamamos de igualdade, mas busque minuciosamente e certamente encontrará a ou as diferenças, por mais aproximadas que sejam, mas não iguais. Portanto, na seriedade existente no relacionamento, seja casamento ou qualquer outro vínculo tal como trabalho, passeio, ou o que possa ser se faz necessária uma análise anterior para conhecer-se, ambos os lados, e desse conhecimento tirar-se conhecimento compatível, ainda que imaginários, com uma possível e salutar efetivação de convivência. Infelizmente existem vários outros atrativos no contexto do relacionamento humano que torna a situação aleatória e imprevisível. Além de muitas outras causas ou razões que certamente há, essa é uma geradora do comportamento que denominam incompatibilidade, mas que nem sempre é, resume-se apenas e simplesmente, na incompreensão vivencial, na falta do devido respeito. Temos que ser coerentes com todas as realidades, ainda que não façamos parte de algumas delas, mas procurando entendê-las em nome do relacionamento, em nome da parceria; a isso se chama solidariedade, e sem ela, sinceramente, não sei qual o caminho a seguir em prol da boa convivência.

Um relacionamento que tem tudo para ser de felicidade, até porque no início as promessas de bondade são generalizadas, é o relacionamento marido, mulher, porém, apesar das juras de amor e de fidelidade enquanto durar, num percentual bem acentuado essas, não apenas promessas, obrigações, deveres, não são cumpridos. De início, como é popular dizer-se: “todo começo são flores”; com o passar do tempo é que vêm as divergências nas vontades, desejos e quereres, vai aparecendo os espinhos culminando realizações implícitas, diferentemente um do outro, quando a realidade da coesão, da união, do entendimento ficam postos de lado, o que visivelmente não pode gerar um bom resultado. Cônjuges em si, respeitando-se uma minoria, marido entrega-se a vícios, ao desinteresse às coisas e causas da família; muitos até se omitem ao trabalho, deixando a carga e responsabilidade sobre os ombros da mulher, enfim, transforma-se numa pessoa diferente do que poderia e deveria ser, não apenas pelo compromisso marital, mas e principalmente pelo esteio de família que é e deixa que a sua ignorância seja maior que sua razão. Não apenas ele, mas também em situações diferenciadas, a esposa se transforma em outra mulher, às vezes até, nem por motivos dados pelo marido, não sei explicar qual, mas por outras razões, não me refiro ao adultério moral, mas a procedimentos fugitivos da ética e do bom exemplo familiar; mínima e impensadamente a falta do respeito verbal, obsceno e agressivo nos seus adjetivos.

A parte afetiva, no âmbito familiar é mais exposta pela esposa; é ela normalmente quem passa os dias com a família enquanto o marido está no trabalho, é uma das razões para o desentendimento; refiro-me à situação obediência. O homem, quando bom pai, carrega consigo uma carga enorme de desejos e aspirações para seus filhos, enquanto a mulher, cheia de dotes e amor para com suas crias, não estou generalizando, permite a desobediência no tocante a pequenas, mas errôneas situações, como faltar às aulas para outras atividades; o uso, não aceitável pelo pai, de determinados adereços, na amplitude do sentido, e outras tantas situações; o que inevitavelmente produz a mentira, que, aliás, tem pernas curtas como dizem, e logo é descoberta; daí fatalmente, por mais amantes e amados que sejam os cônjuges, esses entram em desacordo e discussões, desnecessárias, muitas vezes marcante no relacionamento. O cumprimento de regras, não de caserna, mas de um lar, de família, esse é imprescindível para que haja aquele laço, aquele elo, que envolve toda a família. Pior ainda nessa situação, quando na visão de quem nada sabe nem deve saber sobre o relacionamento familiar de outrem, o exigente por suas razões é considerado uma pessoa ruim, submetido a adjetivos desagradáveis e incoerentes com seu verdadeiro ser. O bom e verdadeiro pai, a boa e verdadeira mãe nunca quer para os seus descendentes o prejudicial, sempre deseja o benéfico e até disponibiliza-se para tal.

Não tantas, mas alguns certamente me fariam ou farão essa pergunta: “você cumpre com todos esses itens?”. Uma boa pergunta. Não somos perfeitos, ninguém é, mas me esforço para a eficácia desse raciocínio na minha convivência familiar; logicamente temos nossos altos e baixos no relacionamento; já disse endosso, as pessoas não são iguais, nada o é, contanto que o esforço e as atitudes prioritariamente necessários sejam desenvolvidos no sentido de que a compatibilidade se faça presente, se não em todos, definitivamente na maioria dos momentos. A vida é feita de momentos, os momentos de situações e nós, cada um de nós, não apenas os genitores, como também filhos, netos e quem mais fizer parte do convívio, somos inevitavelmente espelhos através dos exemplos a oferecer; os filhos e netos se espelham e aprendem com os pais e avós, tanto quanto os pais e avós aprendem com eles; a vida é também um eterno aprendizado, nunca sabemos o suficiente. É perda de tempo buscar a perfeição, todavia, o aperfeiçoamento está sempre por perto, diga-se em disponibilidade e devemos, sim, estar sempre em busca dele. Assim, então, com certeza podemos ser o que devemos realmente ser, família, grupo compatível, amante e amado mutuamente.

Apenas complementando eu diria que já ouvi bem de perto, familiares, de ambos os lados, proferirem agressividades verbais tais como “monstro” e tantos outros comparativos sem o menor sentido. O que é um monstro no raciocínio de quem assim profere e direciona esse termo a alguém? Difícil sabermos, imaginamos, apenas, o intuito da ofensa, da tentativa de diminuição ao opositor. Mas atitude como essa e tantas outras apenas servem como indução, orientação, incentivo para a existência e permissividade do mau comportamento, da ausência do respeito e da afinidade intimamente no lar; situação essa abrangente a toda a família. Assim, meu amigo, minha amiga, sejamos convictos dos nossos direitos e deveres, das nossas irrevogáveis obrigações e, ainda que imaginariamente, sustemos a rédea dos nossos impulsos para que eles sejam sempre benéficos e salutares a nós próprios e preponderantemente aos nossos entes queridos. A compreensão faz parte da sabedoria de cada um. Seja, portanto, sábio.

16 de junho de 2017 = 11:36 h.

PEQUENAS CRÕNICAS
Enviado por PEQUENAS CRÕNICAS em 16/06/2017
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