LEMBRANÇAS DE MEU PAI
Meu pai foi um homem controverso, admirável e único. Embora não tenha tido por ele o mesmo apego que tive por minha mãe, eu o amava muito. Assim, meio de longe, limitada pela minha timidez, tinha-lhe grande admiração.
Homem de poucas letras, fez-se na vida por si próprio. Deixou a Bahia em tenra idade, com sua mãe e irmãos, e veio para o interior de São Paulo trabalhar em fazendas, que era o que sabia fazer. Ousadia, persistência, vontade de trabalhar e uma sagacidade ímpar o transformaram, em pouco tempo, de capataz em fazendeiro.
Meu pai era muito mais velho do que minha mãe. Mocinha, encantou-se por ele, homem de falar diferente, já bem posto na vida, que sabia preencher as ilusões de uma mulher jovem, fazendo-lhe agrados com joias e vestidos de seda, além de declamar versos como ninguém.
O que mais me emocionava no meu pai era seu lado intelectual. Meio rudimentar, é verdade, mas fascinante. Papai havia estudado só até o quarto ano do curso primário, como era chamado o ensino fundamental à época. Um homem de poucos estudos, que recitava “Navio Negreiro”, de Castro Alves, conhecia Victor Hugo, e declamava “A Orgulhosa”, poesia de Trasíbulo Ferraz Moreira, ensinando-a para minha irmã mais velha. Era muito bom quando ele improvisava saraus em casa. Encantamento é a palavra que melhor define o que eu sentia nessas reuniões familiares.
Papai era chamado de Coronel Amâncio, título conferido aos poderosos da época. Muito mais tarde, quando já havia partido, pude revivê-lo no “Coronel Odorico Paraguaçu”, personagem magistralmente interpretado por Paulo Gracindo em "O Bem Amado". Eram parecidos até fisicamente. Impressionava.
Tenho muito orgulho de ter tido um pai do calibre do Coronel Amâncio, homem que, nos momentos certos, sabia ser duro, mas bastava que nós, suas filhas, lhe fizéssemos um carinho para que se desmanchasse em agrados. Fora um homem muito sofrido e toda aquela dureza foi a armadura que encontrou para sobreviver.
Na verdade, não importa quem meu pai tenha sido realmente; o que conta é a minha lembrança de quem ele foi. E dessa, nenhum aventureiro vai lançar mão!
Meu pai foi um homem controverso, admirável e único. Embora não tenha tido por ele o mesmo apego que tive por minha mãe, eu o amava muito. Assim, meio de longe, limitada pela minha timidez, tinha-lhe grande admiração.
Homem de poucas letras, fez-se na vida por si próprio. Deixou a Bahia em tenra idade, com sua mãe e irmãos, e veio para o interior de São Paulo trabalhar em fazendas, que era o que sabia fazer. Ousadia, persistência, vontade de trabalhar e uma sagacidade ímpar o transformaram, em pouco tempo, de capataz em fazendeiro.
Meu pai era muito mais velho do que minha mãe. Mocinha, encantou-se por ele, homem de falar diferente, já bem posto na vida, que sabia preencher as ilusões de uma mulher jovem, fazendo-lhe agrados com joias e vestidos de seda, além de declamar versos como ninguém.
O que mais me emocionava no meu pai era seu lado intelectual. Meio rudimentar, é verdade, mas fascinante. Papai havia estudado só até o quarto ano do curso primário, como era chamado o ensino fundamental à época. Um homem de poucos estudos, que recitava “Navio Negreiro”, de Castro Alves, conhecia Victor Hugo, e declamava “A Orgulhosa”, poesia de Trasíbulo Ferraz Moreira, ensinando-a para minha irmã mais velha. Era muito bom quando ele improvisava saraus em casa. Encantamento é a palavra que melhor define o que eu sentia nessas reuniões familiares.
Papai era chamado de Coronel Amâncio, título conferido aos poderosos da época. Muito mais tarde, quando já havia partido, pude revivê-lo no “Coronel Odorico Paraguaçu”, personagem magistralmente interpretado por Paulo Gracindo em "O Bem Amado". Eram parecidos até fisicamente. Impressionava.
Tenho muito orgulho de ter tido um pai do calibre do Coronel Amâncio, homem que, nos momentos certos, sabia ser duro, mas bastava que nós, suas filhas, lhe fizéssemos um carinho para que se desmanchasse em agrados. Fora um homem muito sofrido e toda aquela dureza foi a armadura que encontrou para sobreviver.
Na verdade, não importa quem meu pai tenha sido realmente; o que conta é a minha lembrança de quem ele foi. E dessa, nenhum aventureiro vai lançar mão!