POLÍTICA (OUTRA VEZ)
Por definição somos, também, seres políticos porque interferimos e nos submetemos ao conjunto de regras que delimitam direitos e deveres dos indivíduos que compõem a nação.
Há entre nós aquele mau costume de confundir “desejos” com “direito” e “obrigação” como “opção”. Nem todos os nossos desejos são direitos, mas todas as obrigações são para serem cumpridas.
Se a lei está errada, desatualizada ou foi “fabricada” para atender interesses escusos ou imediatos, que seja anulada ou melhorada, mas enquanto estiver em vigor, ela terá que ser cumprida porque faz parte do conjunto estruturador da sociedade sem o qual, vira bagunça, deixa de ser sociedade para virar quadrilha, súcia, bando ou qualquer outro nome que se queira dar ao ajuntamento de pessoas que não estão submetidas ao ordenamento jurídico, mas sempre sob a liderança de um déspota, geralmente, criminoso.
É senso comum que não existe regime de governo perfeito. Eu não acredito nessa premissa porque sou democrata por convicção.
Em se buscando a raiz da palavra vamos ter que a democracia é o “governo da casa” e está implícito que todos, absolutamente todos, têm o direito de formar grupos, opinar para as construções dos programas de governo, votar, aceitar o desejo da maioria, trabalhar para a perfeita execução do programa vencedor e, principalmente, fiscalizar se estão e como estão sendo cumpridas as metas estabelecidas.
Nós também somos animais gregários, temos graus hierárquicos definidos nos núcleos familiares, também conhecido como “Socialis cellula mater”, e por conta disso naturalmente “precisamos” de líderes, de chefes, de supervisores que definam as tarefas a serem executadas dependendo da aptidão de cada um, que mantenham o grupo coeso para que a realização individual seja parte integrante e inseparável do sucesso do grupo.
E é exatamente isso que está faltando à Democracia Brasileira.
Não temos líderes que agreguem. As pessoas que ocupam os postos de liderança pregam as dicotomias: amigo/inimigo; parceiro/adversário; teista/ateu; pobre/rico; branco/preto; nativo/estrangeiro; urbano/rural, transformando a convivência social num caldeirão de contradições e intolerância.
Infelizmente votamos em pessoas não em ideias ou programas porque nas campanhas que antecedem as eleições ao invés de programas de governo, os candidatos (normalmente não cândidos) se limitam a criticar os outros concorrentes, trazendo à luz todas as falcatruas cometidas nos desempenhos dos mandatos anteriores vez que todos são políticos profissionais em muitos mandatos.
Nossos partidos políticos, assim denominados por falta de um termo melhor, em verdade não são partidos por não terem ideologias definidas em estatutos coerentes cujos associados seriam fieis por opção, não por obrigação, quando os dirigentes do “partido” resolvem fechar questão sobre determinado assunto.
Ao votarmos em pessoas que, via de regra, são despreparadas para exercer a atividade parlamentar ou executiva, que estão sujeitas à pressões sociais, à favores financeiros, etc., estamos votando num desconhecido porque não temos definição distrital, não existe o vínculo entre o eleitor e o eleito definido geograficamente.
Quantos de nós ainda sabe o nome que votou em vereador, deputado estadual ou federal e senador?
Têm razão de criticar aqueles que falam mal da lista fechada partidária porque essa lista contém os nomes, mas não define o programa que eles terão que cumprir.
A reforma política é a mãe de todas as reformas.
Precisamos enxugar a paquidérmica máquina administrativa, atualizar a constituição e as leis decorrentes, instituir o voto distrital e o parlamentarismo unicameral com drástica redução do número de representantes e, principalmente, reformular, dar identidade aos partidos políticos, estabelecer cotas de desempenho eleitoral e limitar a dois o número de mandatos eletivos dos seus associados porque o exercício do mandato político deve ser entendido como missão, jamais como profissão.