Cabidela ou Erundina, eis a questão

Peço desculpas se ja tiver contado o causo que vou contar. Sou desorganizado, não anoto nada e minha memória anda rateando. Bom, a finalidade desta maltraçada é demonstrar que sou um esquerdista em compotas, farrapeiro e totalmente festivo. Que o meu esquerdismo às vezes é vítima até de fatos hilários.

Era, salvo engano (sou perdido em relação a datas) , começo dos anos 90. Eu era funcionário do BNB, mas tirava onda de esquerdista e também era metido a jornalista e, pasmem, radialista(imaginem um radialista com voz rouquenha, fraca, horrrível). Escrevia todo dia a chamada crônica do meio-dia (escrevi essas crônicas por quase 30 anos, mas eram lidas por um locutor arretado), escrevia nos jornais de Pesqueira e Arcoverde. Apresentava aos sábados um programa de debates, entrevistei cardeais, bispos, pastores, ministros, governadores, deputados, senadores, cantores e sobretudo gente do povo. Era um programa muito ouvido. Não sei o milagre mas era elogiado por todos os lados políticos.

Mas vamos ao foco desta maltraçada. Num sábado entrevistamos, eu e os companheiros que me ajudavam, o proprietário do Hotel Acauã, um cara arretado e que era muito bem informado, fizemos umbom programa. Qando terminou, ele convidou a mim e aos companheiros para degustar uma galinha à cabidela no seu hotel, segundo ele galinha de verdade, galinha de capoeira. Como resistir a um convite desses? Era justamente a minha iguaria favorita. Fomos. Lá chegando nos instalamos em duas mesas na beira da piscina, e enquanto esperávamos pela "penosa à cabidela", ficamos fazendo um "esquente",tomando uma cerveinha estupidamente gelada, intercalando com doses de Piru de 20 anose tirando o costo com linguiça do sertão e farofinha. E tome conversa de miolo depote, anedotas, fuxicos que só pararam quando chegou um seresteiro amigo meu com o violão, foi logo cantando as minhas preferidas, "Volta", "Modinha" e "Chão de Estrelas", mas atrma exigiu uns sambinhas porque seresta aé à noite.

Bom, aí, finalmente, chegou a cabidela. Uma tirrina cheia. Eu já tinha mandado comprar meia dúzia de pão fracês quentinho na Pasaria do Português que ficava pertinho. Adoro molhar o pão no molho da cabidela. Então parti um dos pães, molhei no molho e na ora que ia botando no bocão, chegou um empregado do escritório do hotel dizendo que havia um telefonema urgente para mim. Não havia ainda a moda do celular. Deixei o pedaço de pão em cima de um guardanapo e fui correndo atender, odia ser algo da família. Era urgente, mas nada da família, graças a Deus. Era o presidente do PT me intimando a ir urgente para a sede de um clube local porque havia chegado à cidade a ex-prefeita de São Paulo Luíza Erundina e eakria fazer uma palestra para os esquerdistas, que fosse imediatamente e levasse os companheiros. Voltei à mesa, no caminho me assaltara o dilema shakespereano: - Cabidela ou Erundina, eis a questão. Sentei, peguei o pedaço de mão mastiguei e dei a notícia. Um dos presentes foi logo se levantando e dizendo: - Vambora, não podemos perder a oprtunidade de prestigiar Erundina. Foi sozinho. Eu resolvi ficar com outros dois, comemos a cabidela, tomamos cerveja e cachaça até à noitinha, depois da cabidela veio carne de sol, costeleta de porco, tilápia e o escambau. E o seresteiro animando o ambiente.

Sei que farrapei, mas nunca me arrependi, Sou doido por cabidela. Inté,

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 14/06/2017
Código do texto: T6027652
Classificação de conteúdo: seguro