A cada momento seu cuidado

Sair a tomar um café num Bistrô no final da tarde, um dos pequenos prazeres da vida, muito melhor se estivermos em boa companhia. Pois, estávamos Rafaella e eu nessa fruição. O estabelecimento ficava próximo a nossa casa, era aconchegante e muito bem mobiliado, cheirava a café de boa qualidade e, nos mostradores, as tortas pareciam deliciosas. Sentamos numa mesa de canto, logo uma moça apareceu com o cardápio para solicitarmos o lanche. Percebi de pronto , numa das paredes, escrita em letras negras, uma frase de Raquel de Queiroz: "Cada coisa tem sua hora e cada hora seu cuidado". Surpreendeu-me o fato e a frase me suscitou reflexões... Lembrei-me da citação bíblica que fala do fardo correspondente a cada dia; também, de um clássico moderno do cinema americano, Nada é para sempre, que recebeu o Oscar de fotografia. Esse filme trata da efemeridade de tudo quanto é BELO na vida, como também, da própria existência, pois tudo nela é passageiro; não obstante, revela a força e capacidade de adaptação do ser humano diante das vicissitudes, e o amor que o engrandece e supera o tempo.

Entretanto, em minhas reflexões, percebi que mesmo diante da certeza do efêmero, o medo parece constante, medo de sentir o presente, de "sofrer" o momento, de se expor ao desconhecido, de ser surpreendido pelo inusitado, de aventurar-se; então, acomodamo-nos em sonhos frustrados, em desejos calados, em alegrias tolhidas.

Mas eu quero possuir o desprendimento do monge, a fé do beato, a coragem do mártir, a esperança do simples, a paixão do jovem, a paz do justo, a simplicidade da criança, a verdade do Cristo. Quero perceber no íntimo a existência das coisas no instante em que verdadeiramente existem, sem ilusões nem neuroses, estar atenta ao que se passa ao meu redor e alerta ao que rumina em meu interior; não obstante, preciso reconhecer o final de cada jogada, quando findar a ação e se converterem as formas e os conceitos. Afinal, a efemeridade faz parte do processo, cada situação, ser, corpo, objeto, elemento tem seu tempo, nele se faz eterno através da vida que suscita e regenera. Como já dizia Saramago, em Ensaio sobre a cegueira: "Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo".

Enquanto eu divagava, Rafaella passava em revista suas mensagens do WhatsApp e Facebook, não se deu conta de meu silêncio oportuno nem pareceu desconfortável pela demora no serviço. Demora?! Mas não se passaram nem dez minutos, tudo aconteceu muito rápido, não notei, estava absorta em meus pensamentos, apreciava aquele momento introspectivo intensamente quando a garçonete chegou com um delicioso pão de queijo recheado e o cappuccino italiano meio amargo para mim, uma trouxinha de frango com catupiri e chocolate quente para a Rafaella. Foi como água na fervura. Outro momento, outro cuidado. Tudo bem, sem pressa; mas é melhor comer senão esfria! rsrsrsrs

MARIA DE CASTRO
Enviado por MARIA DE CASTRO em 14/06/2017
Reeditado em 14/06/2017
Código do texto: T6026907
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.