DESTAS SOLIDÕES

Diário de minhas andanças
(outubro/2015)
Há um gorjeio entranhado na ramagem.
[Sabiá]
Uma casa antiga , janelas cerradas, quintal desolado entre o abandono de urzes.
Há um gorjeio entranhado na tarde que esmorece no leito morno de outubro.
Algo de melancólico neste trinado que me invade os ouvidos, que deixa-me travado nas mais impublicáveis divagações.
[É um sabiá na cantilena do acasalamento]
A casa antiga, feito eu, encolhe-se na pasmaceira deste fim de dia que implora por clemência ao que ainda resta-lhe de sol por trás dos montes.
Ninguém pelas ruazinhas de pedras, ninguém pra se dizer: Olá!...Como vai?...
Um cenário de verdes contrastes pontilhado de quando em quando por algum ipê acanhado de distância,e...
No silêncio da tarde, os ecos de meus passos acasalam-se aos gorjeios entranhados de quintais.
Então, rompo as gaiolas do peito , liberto os pássaros calados de minhas inquietações e uma revoada serena risca o céu de goiabada que descortina-se à minha frente.
Entrego-me à lassidão do dia que agoniza.
Do alto adivinho as vidas acabrunhadas no vilarejo à distância.
Sob meus pés, as paralelas da linha férrea desenham em suave uma curva a esconder-se entre as aroeiras.
Um ser anônimo singra as paralelas como quem busca a plataforma da estação mais  proxima.
Passos cansados, trôpegos...
Na trouxa...
[Sugerem-me os botões]
O fardo das ilusões, dos sonhos acalentados, das (Des)esperanças...
Ponho-me na grosseira posição de invasor de sua alma e por instantes me vem vem à cabeça os versos de Alceu Valença:
"A solidão é fera///A solidão devora..."
Joel Gomes Teixeira