REPUDIE A INUTILIDADE
(Carlos Celso Uchoa Cavalcante)
Você acorda cedo, quase madrugada, início da manhã, levanta, ainda com sono, da cama. Há vezes em que nem ao menos se alimenta. Sai sem sua primeira refeição, sem seu café matinal, vai para a escola, assistir às aulas que serão ministradas pelos professores em mais um dia. É uma obrigação sua, um dever diário, ao menos nos dias úteis da semana. Todo esse trabalho, que não deixa de ser um sacrifício, pela manhã de cada dia.
Lá para as tantas horas do dia, final da manhã, início da tarde, volta para casa; apesar do enfado, passos apressados, ansiedade por um bom e restaurador banho; pelo almoço; também por um necessário repouso. Exausto, num misto de humores, apesar de amante da família, pouca conversa e concentração só no banhar-se, alimentar-se e dormir durante parte da tarde. É cansativo; sabe-se e vê-se, mas é imprescindível na vida de cada pessoa nas primeiras idades, digamos infância, adolescência e fase adulta, até quando necessário for. Estudar. Sim! Estudar. Nascemos sem ao menos saber falar e a tudo somos submetidos aprender, para que, a partir desse princípio possamos ser e sejamos pessoas realmente sociáveis, pessoas compatíveis com essa realidade a que chamamos vida, ou digamos viver. A ignorância não é uma condição determinante para a vida de ninguém; o conhecimento, sim! Não porque necessariamente temos que ser pessoas dotadas do didatismo, da inteligência ou de similares, mas porque não se caminha na escuridão sem uma luz e essa luz, nessa pequena simbologia que ora faço em relação à vida, ao viver, ela é caracterizada exatamente pelo conhecimento, pelo aprendizado, pelo que nos predispomos a desenvolver. Imaginemos, pois, se nascêssemos sem saber falar, sem saber andar e ninguém nos ensinasse a fazê-los! Como seriamos? Como viveríamos? Certamente, talvez por um impulso de curiosidade, alguém possa retrucar; os animais não falam e se entendem! Sim, não falam e se entendem, mas entre si, o presumível é que eles entendem suas sonoridades, assim como entendemos as palavras entre nós. Quanto a essa última questão, ela é complexa e profundamente reflexiva, até porque, a esses objetivos, por mais que tentemos, não conseguiremos chegar a eles; são essências da criação de Deus.
No cotidiano do lar, na família, as conversas, os diálogos são aleatórios, diversificados; é um lar, é uma família, a liberdade dos assuntos é espontânea e esporádica, todavia, quando há uma indagação, normalmente por parte dos pais, com relação a esse tema aqui em foco, a escola, o estudo, as respostas têm seus pesos e medidas. A questão de não gostar dessa ou daquela matéria, ou disciplina curricular; tão já fui estudante e havia algumas que não me eram tão simpáticas, mas exatamente, essas antipáticas, eu enfrentava com mais afinco, pois, sempre pensei não devemos jamais baixar a cabeça à dúvida, devemos sim, cobrar do nosso raciocínio aquela realidade, e quando difícil acharmos, consultarmos, perguntarmos; nesse caso específico, a pessoa mais própria para através dela tirarmos a dúvida é o professor; timidez, acanhamento, temor às críticas de colegas de sala são sentimentos dosados de negatividade, afinal, ali estamos para aprender, não para disputar quem o mais sábio, porque na realidade, generalizadamente, quando pensamos saber muito, a realidade é que não sabemos nada, já começa pelo insignificante complexo da superioridade; superior só Deus, ninguém mais que ele; somos de uma igualdade incontestável; as diferenças físicas que pensamos ver em um ou outro são meramente fantasias. Deixemos esses conceitos pra lá e voltemos ao nosso tema.
Estudar, portanto, é uma carência imprescindível, até porque, não vemos, é imaginário, na vida somos uma estrutura, não apenas física, mas de aprendizado, do conhecimento de onde concerne a nossa base em seu sentido amplo e irrestrito. Somos o arquiteto, o engenheiro, o pedreiro da nossa construção social; porque de ninguém mais que de nós próprios é a responsabilidade pelo progresso que consigamos conquistar. Indo mais além nesse ponto de vista com relação ao aprendizado, sempre achei que o aprender tem bem mais eficácia que o ensinar; que quero dizer com isso; numa sala de aula o professor tem o seu papel de transmitir o conhecimento da matéria, mas o aluno, que ali está em busca do conhecimento, tem a preponderância, a obrigatoriedade, o dever incondicional da busca através da assimilação. Do entendimento e esses só se conquista através da dedicação da afinidade. Estudar não é apenas ir à escola, não! Estudar é conviver com os deveres de estudante para assim chegar ao pódio do aprendizado conquistando o direito de cidadão. Não estudar implica em não aprender e essa prática só leva a um caminho a inutilidade de todo um sacrifício desenvolvido sem entusiasmo e a vergonhosa ignorância; vergonhosa pelo fato do esperdício da oportunidade que lhe fora dada. Portanto, reflita, raciocine, medite e repudie a inutilidade.
(07/junho/2017)