O vendedor ambulante.
Sol escaldante, três horas da tarde de uma preguiçosa terça-feira, mês de março. O trânsito na avenida itavuvu está relativamente calmo, mas isso não vai durar muito tempo, quando for exatamente cinco horas da tarde desanda tudo novamente. Esse é, sem a menor sombra de dúvidas, o pior local do brasil para dirigir. É quase impossível ter em sorocaba um dia tranquilo no trânsito, eu penso é nos motoristas de ônibus, o dia todo nessa loucura, atrás do volante aguentando calor e passageiros que nem sempre colaboram. Como se não bastasse a loucura do trânsito, é uma classe de trabalhadores que vez ou outra procuram psicólogos devido o alto nível de stress. Também não é para menos. Sorocaba é uma cidade de pessoas apressadas, que nunca têm tempo para nada na vida, é correria e trabalho o tempo todo, às vezes e muito raramente, quando o cidadão sorocabano encontra um feriadão, ele não pensa duas vezes para sumir da cidade, desaparece. Quando retorna, começa tudo novamente, a mesma correria de sempre, o mesmo estress de sempre, as mesmas lamúrias e reclamações de sempre.
Terça-feira de muito calor, a sensação térmica é de quarenta graus, o suor mina na testa feito cachoeira, a garganta seca implorando por um pouco de água. De repente, um pouco mais a frente parei no semáforo, e para a minha alegria lá estava um vendedor ambulante vendendo garrafinhas de água gelada. Um moço novinho, rosto ossudo, voz fraca:
- Olha a água, geladinha pessoal, só dois reais, baratinho, aproveita, dois reais.
Chamei o moço, de pronto me atendeu.
- Uma garrafinha por favor moço.
- Aqui está chefe - disse ele me entregando a garrafa e pegando a nota de dois reais - muito obrigado moço, Deus abençoe o senhor.
- Amém, Deus abençoe você também.
O rapaz saiu logo em seguida, com mais duas garrafinhas nas mãos, rosto suado, voz rouca, oferecendo água para matar a sede, enquanto ele, de sol a sol tirava o seu sustento. Sorocaba está repleta de pessoas assim, que ao ficarem desempregados tiveram que apelar para os sinais. Vendedores ambulantes, trabalhadores incansáveis, merecem o nosso respeito.
Um pouco mais a frente, quase já no meu destino, no último sinal, outro vendedor ambulante, mas esse era bem conhecido de todos. Eu imagino que quase toda a zona norte de sorocaba e porquê não dizer quase toda a cidade conhece aquele simpático moço de terno, que sempre está no mesmo local todas os dias. Perdoe-me mas não quero revelar sua identidade, mas apenas dizer que ele, com aquele sorriso no rosto, terno bonito no corpo, cantarolando algum hino qualquer, com toda certeza deixando a vida de todos os seus ouvintes um pouco mais feliz.
- Bom dia moço, vai querer alguma coisa.
Eu não ia comprar nada, mas aquele sorriso e disposição, enfiado em um terno em um sol de quarenta graus, merece minha consideração, comprei outra garrafinha de água, ele saiu contente, cantarolando, antes de sair me disse:
- Vinte e três de salmos meu irmão, Deus abençoe sua vida.
Eu segui o meu caminho, ele o dele, já quase no meu destino, comecei a refletir em todas essas coisa, minha única conclusão foi.
" Deus é bom o tempo todo, e o tempo todo Deus é bom."