"A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica" - crônica do texto de Walter Benjamin

"A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica" -Walter Benjamin - Por: Luciano D'Medeiros

Não se pretende aqui um exame acadêmico apurado sobre o texto citado. Apenas alguns apontamentos sobre a grandiosidade dos temas que o autor debate.

Era inegável o temor que os teóricos da Escola de Frankfurt, na primeira geração tinham dos meios de comunicação, já que afirmavam que neles haveria o fim da arte como contemplação, em prol apenas do entretenimento. Os autores da Escola de Frankfurt viam os meios de comunicação de massas como um processo de transformação da produção cultural numa mercadoria qualquer, como era o carro, o vestido, o brinquedo.

A contemplação, segundo Walter Benjamin, era o olhar demorado sobre a obra, o que estava sendo perdido por causa da câmera. Era a câmera quem escolhia o que era visto, e não mais o olhar do público. A contemplação, antes da invenção da câmera cinematográfica e da máquina fotográfica, era única pelo "aqui e agora" da obra, que era muito pessoal e condicionada a experiência estética de cada pessoa. Cada pessoa chegava a uma conclusão, pois os ângulos do olhar eram muito pessoais. A observação não era um "flash". A experiência era a única forma de se sentir pertencente a uma dada superestrutura cultural e conhecê-la depois dela ser superada por um novo sistema econômico. A obra era construtora da identidade e, como o passar do tempo, registro histórico.

Já o entretenimento não trabalha assim. Trabalha com a rapidez e o caráter efêmero da produção cultural. O entretenimento trazia uma massificação da imagem que impedia qualquer experiência estética singular, pois uma coisa é ler Dom Casmurro, de Machado de Assis, por exemplo. Outra coisa é ver o filme da obra: uma pobreza absoluta, segundo Walter Benjamin. Quem lê imaginaria Bentinho ou Capitu de maneira muito peculiar, o que um filme padroniza. A experiência não ligaria nada a nada, pois tiraria o debate e a discussão. Viveríamos numa espécie de presente permanente, cheio de clichês e um repertório de emoções calculadas por executivos da burocracia do entretenimento, pertencentes cada vez mais a conglomerados ligados aos grupos financeiros.

A primeira metade do século XX foi a aurora destes meios, que magistralmente Walter Benjamin compreendeu do ponto de vista das forças produtivas, como fora a máquina a vapor para a indústria têxtil. Assim seriam as câmeras, as lentes e as películas em prol da maquinaria cultural, capaz de fazer filmes na mesma velocidade da indústria de automóveis de caráter fordista. Segundo nosso autor, o cinema serviria para criar o totalitarismo, a propaganda de guerra, os líderes fascistas e daí por diante. Uma visão negativa dos meios de comunicação de massa.

Walter Benjamin afirmava que até uma peça de teatro de Romeu e Julieta, por exemplo, amadora, feita numa escola secundária, era bem melhor que um filme sobre o texto de Shakespeare. A peça conservava a aura do texto, que era captada peculiarmente por cada companhia de teatro. Era impressionante o horror que ele tinha da maquinaria cinematográfica, por padronizar a experiência estética, sem dar a ela a singularidade da Literatura pura, por exemplo. Segundo o autor, o cinema matava a aura da criação artística, por meio da reprodução em série, a qual matava a "irreprodutibilidade" do original. O cinema seria uma divisão do trabalho manufatureira na qual, por meio das técnicas de edição, o teatro seria absorvido, na mesma lógica da cooperação simples pelo artesanato, como Marx estudou nos capítulos XI e XII de O Capital.

Muito difícil ter uma opinião de um texto como "A Obra de Arte na Era da Reprodução Técnica". Só consigo ficar perplexo, ainda mais quando li "O Narrador", do referido autor. Segundo Benjamin, o romance, a partir do século XV e XVI, é uma expropriação do narrador, da capacidade oral das pessoas, que agora será monopolizada por um profissional: o escritor. Será que a cultura passaria pelo mesmo processo de acumulação primitiva descrito por Marx no capítulo XXIV de O Capital? Os meios de produção culturais seriam retirados das mãos dos pequenos produtores para serem monopolizados pelas grandes empresas de comunicação de massas?

LUCIANO DI MEDHEYROS
Enviado por LUCIANO DI MEDHEYROS em 09/06/2017
Reeditado em 05/04/2020
Código do texto: T6023107
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