FILHOS SÓ SERVEM PRA COALHAR NOSSO CHÃO.
Curioso esse negócio de filho. A gente os faz e eles acabam sendo filhos do mundo quando menos esperarmos. São fieis escudeiros, quando isto lhes convier, e atrozes farpas quando der na sua telha. Vemos crescendo do nada e de repente são capazes de nos engolir numa golfada só, sem pedir desculpa nem perdão. Vão triturando os ossos da nossa alma até não sobrar nada dela. E se a gente espera um agrado de volta, um sorriso, um afago leve, mas o que vem são lufadas de ingratas e carrancudas rebarbas, que saltam aos olhos feito pipocas na brasa. Filhos servem para nos coalhar onde pisamos, nos enferrujar, nos banir feito cão sarnento. Filhos são nosso encargo perpétuo, pedaços mal ajambrados da gente que se empacam à nossa sombra só esperando a hora premiada de darem seu bote derradeiro. Nos devem suas vidas e isso por si só mereceria nos tratarem com respeito, com dignidade, com decência até. Mas nada disso. Suas palavras fogem da boca atulhadas de impropérios, seus gestos permeiam o abissal lodo da dissimulação, seus sentimentos mal cabem num grão de arroz. São criaturas amargas, zumbis que nos estraçalham cada vintém com volúpia do primeiro gozo. Filhos são o legado do breu, do encardido, do mais repugnante esgoto que este mundo é capaz de botar pra fora do seu útero. Filhos são a inequívoca voz de que não valeu a pena ter tido a destemperada ideia de trazê-los à vida certo dia. Justamente por isso vamos ter que carregar este martírio que nos disseca o estômago, numa putrefata folia que nunca chegará a fim. Filhos são a razão do arrependimento nunca morrer, pois a cada dia se fazem dizer que nos acuaram numa cilada funesta e maldita - que será o nosso réquiem, o nosso engodo, o nosso troféu de eterno perdedor, de eterno otário e idiota que nunca entende a piada. Nunca mesmo.
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