Noite Coxa Branca

NOITE COXA BRANCA

Era uma quarta-feira como outra qualquer. Ou melhor, deveria ser, mas não era.

O Couto Pereira iria pulsar e respirar emoções. Era dia de ir ao estádio e torcer, rezar, sorrir e ser feliz. Aliás, não era dia, era noite. Uma noite para ficar na lembrança, registrada em foto, em retrato destes de pendurar na parede, para que se eternizasse em nossas memórias.

Onze camisas alviverdes flutuavam sobre a relva úmida. Desfilavam garbosas, orgulhosas de suas cores. Do outro lado, outras onze, com quase as mesmas cores, representando o temido adversário. Não haveria espadas, nem canhões, nem tanques de guerra. Seria uma batalha de coreografias e danças, e de gingados sobre o tapete verde esmeralda.

A plateia vibrava e explodia de tanta alegria, pois era uma batalha sem sangue e sem a violência nefasta e malvada. Ao fim da guerra os soldados vencedores vibrariam com a conquista, mas respeitando os vencidos, reverenciando o garbo e a elegância com que se enfrentaram na arena.

A disputa foi árdua, mas quiseram os deuses do futebol que São Galdezani recebesse um presente de bandeja de São Marcio. A pelota viajou por 60 metros e foi beijar o pé do artilheiro. Um a zero gritava o placar.

O inimigo era bravo e varonil. Não se entregava. Fustigava a defesa, tentando vencer a cidadela protegida por outro ser celestial: Hagi Wilson.

Antigas almas velavam a conduta dos onze guerreiros de túnica alviverde. O velho Neno, com seu boné cobrindo a calva precoce, chorava de emoção.

Zé Roberto dava dribles imaginários na beira do gramado. Hamilton Guerra, o Miltinho, fazia suas molecagens para atrapalhar os adversários e Livadir Toaldo, o Nico, soprava o vento para desviar a pelota rumo ao arco coxa branca.

O espírito guerreiro de 1985 encarnou nos nossos combatentes. São Rafael provavelmente não estava, assim como Índio, Heraldo, Toby e Dida. Mas suas energias positivas penetravam nos poros de Dodô, William Mateus, Alan Santos e Henrique Almeida. Kleber, empunhando seu escudo e sua lança digladiava com a defesa adversária, inspirado pela garra de Hermes e Orlando Fumaça.

Era noite de vitória. Era noite de alegria. Era uma noite enfeitada com as cores de meu Coritiba.