ARTHUR E SEUS AMORES PLATÕNICOS
Arthur, 08 anos bem completados em fevereiro de 2017. Um dos netos, meu companheiro assíduo, menos pelo parentesco e mais por afinidades. Vivaz, ativo, engraçado e quase sempre muito bem-humorado: dono de um humor sutil, criativo e, até, de certa sofisticação pouco encontradiça mesmo no mundo dos adultos, em grande parte viciado em humores televisivos, repetitivos ou chulos. Extremamente afetivo com os que o cercam, do mesmo modo é receptivo aos afetos desses. Em linhas gerais - descontando-se eventual corujice voluntária de avô - este é o atual Arthur.
De uns tempos pra cá deu de se apaixonar perdidamente por determinadas menininhas. No geral se sente atraído pelas meninas mais velhas tipo de 10 anos, 12 e até 15. Nesse quesito, acho que ele é uma espécie de *Emmanoel Macron em miniatura. Eu soube, por último e através da mãe dele, que agora se apaixonou - platonicamente claro - por uma colega da escola onde estuda, tendo inclusive se declarado através de uma caixa de bombom que comprou e enviou a ela, parece que através de um menino “mensageiro”, onde escreveu: “Te amo. Arthur”.
O fato é que ele nunca sequer falou com a tal menina, de nome Gabriela. Só a vê de longe.
Último fim de semana Arthur passou, mais uma vez, na casa do avô; no caso eu. Assim, num determinado momento e em cima do fato de que ele está de amor novo, travamos, mais ou menos o seguinte diálogo:
EU - E aí Arthur, que negócio é esse que você tá apaixonado de novo se nem mesmo conhece a menina?
ARTHUR - Eu conheço ela muito bem sim vô. Eu nunca falei com ela mas conheço sim.
- Não tem como conhecer uma pessoa se você nunca falar com ela, não conviver...
- Tem sim vô. Eu nunca falei com ela mas eu sei que ela é simpática (sic). Eu sei porque faz tempo que eu espiono ela sem ela perceber(sic).
Face a tal argumento, em minha opinião plenamente convincente em se tratando de amor, sentimento tão subjetivo e pessoal, nada me restou a não ser o meu acedimento e cumplicidade.
EU – Tá bem Arthur, eu entendo. Mas eu soube que você já se declarou pra ela, que lhe deu uma caixa de bombons...então, na realidade você se comunicou, falou com ela através da caixa de bombons . Falta agora ela falar com você se for o caso.
ARTHUR- É vô. Eu só to preocupado com uma coisa... é que na verdade são duas meninas: Tem a Gabriela e a Mari.
- Como assim Arthur?!?! Duas?!?!
- É vô. Elas são quase iguais. Uma é da 4ª série, a outra acho que é da 5ª. Até parecem gêmeas de tão parecidas. Até o jeito de se vestirem é parecido...
- Mas afinal você gosta da Gabriela ou gosta da Mari?
- Eu gosto das duas vô...é que eu tô confuso...como as duas são quase iguais eu não sei qual é a Mari e nem qual é a Gabriela. Eu acho que gosto mesmo é da Gabriela, mas eu não sei qual é uma e qual é a outra.
Contendo-me, com grande esforço, para não explodir em gargalhadas, prossegui o diálogo:
- Sim Arthur, e a tal caixa de bombons você mandou pra Gabriela ou mandou pra Mari?
- Eu mandei pra Gabriela.
-E o que você escreveu?
- Escrevi “Te amo. Arthur”. (Com ar preocupado) Mas aí que tá meu medo. Eu acho que a caixa de bombons foi entregue por engano pra Mari. Se aconteceu isso to ferrado vô.
Não aguentei mais segurar o riso e explodi em gargalhadas. Aí Arthur me olhava, sério e contrariado, perguntando “por que eu tava rindo?”. Que não tinha graça nenhuma. Aí mesmo que não houve como segurar as gargalhadas. Na sequência, para não ferir seus nobres sentimentos consegui me controlar contendo o riso e, como bom avô que sou, aconselhei-o a tentar solucionar a questão no decorrer da semana. Esperar pela(s) reação(ões) dela(s) com referência a caixa de bombons. Da Mari e da Gabriela, depois ver o quê e como fazer.
Ainda não sei em que pé está a situação mas acho que de um modo ou de outro tudo correrá muito bem e cada um desses personagens levará, certamente, para suas vidas adultas muito boas lembranças dos seus amores platônicos da infância.
(P.S.- Recebo agora notícia da mãe do Arthur confirmando que a caixa de bombons, como ele temia, foi entregue para a menina errada mas, que, de todo modo, como ele não sabe muito bem quem é uma ou quem é outra, acho que vai fazer pouca ou nenhuma diferença. Vamos ver o que acontece.)
*Emmanuel Macron
Atual presidente francês que, quando tinha apenas 15 anos, se
apaixonou por sua professora Brigitte Trogneux, 24 anos mais
velha do que ele. Na sequência, anos depois, acabaram
namorando e se casando. Ela atulamente é a “primeira dama” da
França.
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