PEQUENAS CRÔNICAS

REPUDIE A INUTILIDADE /

Você acorda cedo, quase madrugada, início da manhã, levanta, ainda com sono, da cama. Há vezes em que nem ao menos se alimenta. Sai sem sua primeira refeição, sem seu café matinal, vai para a escola, assistir às aulas que serão ministradas pelos professores em mais um dia. É uma obrigação sua, um dever diário, ao menos nos dias úteis da semana. Todo esse trabalho, que não deixa de ser um sacrifício, pela manhã de cada dia.

Lá para as tantas horas do dia, final da manhã, início da tarde, volta para casa; apesar do enfado, passos apressados, ansiedade por um bom e restaurador banho; pelo almoço; também por um necessário repouso. Exausto, num misto de humores, apesar de amante da família, pouca conversa e concentração só no banhar-se, alimentar-se e dormir durante parte da tarde. É cansativo; sabe-se e vê-se, mas é imprescindível na vida de cada pessoa nas primeiras idades, digamos infância, adolescência e fase adulta, até quando necessário for. Estudar. Sim! Estudar. Nascemos sem ao menos saber falar e a tudo somos submetidos aprender, para que, a partir desse princípio possamos ser e sejamos pessoas realmente sociáveis, pessoas compatíveis com essa realidade a que chamamos vida, ou digamos viver. A ignorância não é uma condição determinante para a vida de ninguém; o conhecimento, sim! Não porque necessariamente temos que ser pessoas dotadas do didatismo, da inteligência ou de similares, mas porque não se caminha na escuridão sem uma luz e essa luz, nessa pequena simbologia que ora faço em relação à vida, ao viver, ela é caracterizada exatamente pelo conhecimento, pelo aprendizado, pelo que nos predispomos a desenvolver. Imaginemos, pois, se nascêssemos sem saber falar, sem saber andar e ninguém nos ensinasse a fazê-los! Como seriamos? Como viveríamos? Certamente, talvez por um impulso de curiosidade, alguém possa retrucar; os animais não falam e se entendem! Sim, não falam e se entendem, mas entre si, o presumível é que eles entendem suas sonoridades, assim como entendemos as palavras entre nós. Quanto a essa última questão, ela é complexa e profundamente reflexiva, até porque, a esses objetivos, por mais que tentemos, não conseguiremos chegar a eles; são essências da criação de Deus.

No cotidiano do lar, na família, as conversas, os diálogos são aleatórios, diversificados; é um lar, é uma família, a liberdade dos assuntos é espontânea e esporádica, todavia, quando há uma indagação, normalmente por parte dos pais, com relação a esse tema aqui em foco, a escola, o estudo, as respostas têm seus pesos e medidas. A questão de não gostar dessa ou daquela matéria, ou disciplina curricular; tão já fui estudante e havia algumas que não me eram tão simpáticas, mas exatamente, essas antipáticas, eu enfrentava com mais afinco, pois, sempre pensei não devemos jamais baixar a cabeça à dúvida, devemos sim, cobrar do nosso raciocínio aquela realidade, e quando difícil acharmos, consultarmos, perguntarmos; nesse caso específico, a pessoa mais própria para através dela tirarmos a dúvida é o professor; timidez, acanhamento, temor às críticas de colegas de sala são sentimentos dosados de negatividade, afinal, ali estamos para aprender, não para disputar quem o mais sábio, porque na realidade, generalizadamente, quando pensamos saber muito, a realidade é que não sabemos nada, já começa pelo insignificante complexo da superioridade; superior só Deus, ninguém mais que ele; somos de uma igualdade incontestável; as diferenças físicas que pensamos ver em um ou outro são meramente fantasias. Deixemos esses conceitos pra lá e voltemos ao nosso tema.

Estudar, portanto, é uma carência imprescindível, até porque, não vemos, é imaginário, na vida somos uma estrutura, não apenas física, mas de aprendizado, do conhecimento de onde concerne a nossa base em seu sentido amplo e irrestrito. Somos o arquiteto, o engenheiro, o pedreiro da nossa construção social; porque de ninguém mais que de nós próprios é a responsabilidade pelo progresso que consigamos conquistar. Indo mais além nesse ponto de vista com relação ao aprendizado, sempre achei que o aprender tem bem mais eficácia que o ensinar; que quero dizer com isso; numa sala de aula o professor tem o seu papel de transmitir o conhecimento da matéria, mas o aluno, que ali está em busca do conhecimento, tem a preponderância, a obrigatoriedade, o dever incondicional da busca através da assimilação. Do entendimento e esses só se conquista através da dedicação da afinidade. Estudar não é apenas ir à escola, não! Estudar é conviver com os deveres de estudante para assim chegar ao pódio do aprendizado conquistando o direito de cidadão. Não estudar implica em não aprender e essa prática só leva a um caminho a inutilidade de todo um sacrifício desenvolvido sem entusiasmo e a vergonhosa ignorância; vergonhosa pelo fato do esperdício da oportunidade que lhe fora dada. Portanto, reflita, raciocine, medite e repudie a inutilidade.

(07/junho/2017)

SONHOS QUE SONHAMOS

(Carlos Celso Uchôa Cavalcante=03/jan./2019)

Era, ainda, meio de caminho do percurso; viajávamos ela, eu e um pequeno filho. Não sei explicar o motivo, a razão, a causa, sei lá, mas ali terminava o nosso direito de viagem, as passagens que havíamos comprado só nos permitia o direito de viajarmos até ali. Ignorávamos que lugar era aquele, não conhecíamos, nem mesmo o nome da cidade em que estávamos e havia parado aquele ônibus, em que vinhamos, para desembarcar passageiros que ali ficariam e alguns outros que tomariam um breve lanche, ou iriam ao banheiro, e ou caminhariam um pouco fora do coletivo para exercitar as pernas, o corpo, até mesmo a mente; buscando uma fuga do cansaço e da fatiga por conta do exaustivo tempo em que viajavam sentados, de uma certa forma, incomodados pelo desconforto da paralisação física, da quase inércia do corpo em trânsito. Mas a realidade da situação é que alí teríamos que ficar, ali cessava nosso direito de prosseguir na viagem conforme as passagens que havíamos comprado; ela, nossa pequena criança e eu. Não tínhamos mais dinheiro para ampliarmos o nosso direito de percurso na viagem e havíamos chegado já ao nosso limite legal de direito. Naturalmente também não conhecíamos ninguém e ali estávamos como se perdidos num mundo desconhecido.

Chega, portanto, o momento do ônibus prosseguir em sua viagem; que fazermos? a indecisão tenta apoderar-se de nós, aproxima-se o desespero; eramos só nós três: ela, eu e a nossa pequena criança; não conhecíamos ninguém, se quer sabíamos onde estávamos, totalmente alheios a tudo e a todos, verdadeiramente a sós.

Com um pouco de dificuldade, mas perseverante, consegui localizar um funcionário daquela empresa de ônibus, que naquele lugar permanecia a serviço, era uma espécie de fiscal, fazia o gerenciamento das viagens cujos coletivos por ali passavam. Conversei com ele, expliquei toda aquela minha desagradável situação; daí tocado pela comoção, concedeu-nos uma autorização para viajarmos até um percurso mais além, uma pequena cidade mais à frente, onde também não conhecíamos nada nem ninguém. Perguntei se, lá chegando, poderia ampliar a autorização num percurso maior, no que fui respondido que não, era aquela toda a ajuda que podia nos dar. Recebi a autorização, agradeci e, na dúvida não viajei; ali onde estávamos já era uma situação preocupante; achei que não devíamos nos aventurar a outra, quando a nossa realidade era chegarmos ao nosso pretendido itinerário. Indecisão, medo, quase desespero começaram a nos atingir; nossa pequena criança nada dizia, nada opinava, afinal era muito pequena e apenas nos acompanhava a cada passo que dávamos; conversamos, nós os pais, e deixamos fluir os mais satisfatórios e felizes pensamentos baseados nas coincidências, nos acasos, e porque não dizer, na sorte de passar por ali um conhecido, e quem sabe? passar um veículo da empresa onde trabalhei e de onde já era aposentado, mas ainda bastante conhecido de muitos que lá permaneceram na ativas; fazia-se necessário alimentar esses pensamentos para sair daquele mundo de medo, indecisão e incerteza; sabíamos não ser fácil nenhuma daquelas propostas imaginárias, mas também sabia que para Deus não existe o impossível; até porque eramos três: ela, eu e a pequena criança.

O que faríamos quando sentíssemos fome? nós adultos certamente resistiríamos! mas... e a criança?

O que faríamos quando chegasse a noite; para dormirmos? nós adultos certamente criaríamos uma situação paliativa! mas... e a criança?

Era uma situação realmente conflitante com a paz e o sossego espiritual.

Havia ali na imediações, não sei descrever porque não conhecia o lugar, um enorme recipiente no chão com bastante água, rústico, sem adorno, mas visivelmente bem reforçado e de tamanho consideravelmente grande; não sei se uma piscina ou se simplesmente um tanque. Estou sentado em um banco de pequena praça, enquanto ela e a criança, não lembro fazendo o que, estão do outro lado da calçada; subitamente, eu até cochilava ali sentado, abri os olhos e vi que ambas, de mãos dadas andavam apressadas, sem olhar para trás, em direção àquele enorme e profundo depósito dágua. Fazer o que e porque tanta pressa? agora é que indago, mas no momento nada assimilei, nem imaginei, foi surpreendente e imediata aquela situação. Levantei-me, então, às pressas daquele banco de praça e saí, quase correndo, chamando-as a parar; não sei se não ouviram ou não quiseram obedecer, nem ao menos olharam para trás e apressavam cada vez mais os passos, foi quando corri com mais rapidez e, já quase chegando à borda do tanque, consegui alcançá-las e tocando o seu braço, ela voltou pra mim, como se chorando, abraçou-me o corpo, enquanto a criança abraçava-nos as pernas; ali transitaram horríveis suposições pela minha mente, quando dominado pela emoção só tive uma reação, agradecer a Deus.

Ficou assim, sem um final fisicamente conclusivo essa viagem interrompida no meio do caminho; mas com uma finalização soberanamente espiritual quando, na sensação de visivelmente, vemos, e se não vemos, sentimos a presença de Deus e suas ações quanto à determinação imprescindível do papel, dever e obrigação minha com relação à dependência daqueles que comigo estejam ou possam estar.

São sonhos que sonhamos e o mesmo Deus que sempre está presente onde quer que possamos estar, essencialmente nas aflições.

MEÇA

(Carlos Celso Uchôa Cavalcante=10/maio/2021)

Nem tudo tem medida, peso, cor ou odor, todavia, num linguajar popular costumamos usar esses ítens em algumas conversações esporádicas, tais como: "tamanho da saudade" - "peso da consciência" - "cor da razão" - "odor do desejo" e tantas outras espontâneas e improvisadas comparações. A referência inicial é a abertura de uma estrada para conversarmos sobre especificamente "sobrenome" = identidade familiar e "caráter" = identidade moral.

A família em sua essência é a constituição de um elo de pessoas com características parecidas, mas procedimentos diferenciados, até porque ninguém é igual a alguém. O caráter é o conceito individualizado em cada pessoa, as vezes um tanto parecido entre familiares, mas nunca igual, visivelmente diferenciado por pontos de vistas; a família é formada, é constituída; o caráter é criado através do aprendizado doméstico e, porque não dizer, também com a convivência extra familiar, daí dizer-se que o mundo é uma escola onde aprendemos a ver, ser e ter.

Há um procedimento chamado respeito que, no paralelo dessas duas situações, ele fica no meio. As pessoas se relacionam de uma e outra forma e ele alí está na sua prontidão; ele é como uma pitada de sal para o feijão e ou uma colher de açucar para o café; sabores totalmente distintos, mas que não se sujeitam à inversão. Assim são, como acho serem, salvo melhor juizo, a família com relação ao caráter e vice-versa.

Confrontar situações, como as vezes vemos, solidária com indiferença de outrem, enumerar momentos de cooperação com negativismo de outrem, e tantas outras, não é uma ação lógica nem de cunho construtivo, inevitavelmente é uma condução ao desentendimento, consequentemente ao embate verbal nem sempre satisfatório. quando as palavras ganham seus potenciais e normalmente a ofensa aflora. Nem mesmo a ofensa individualizada é digna de apupos, nada o é; convenientemente o entendimento é mais propício, porém, o que se vê, principalmente à distância, por redes sociais, diante dessa famigerada evolução do celular, são ofensas degradantes generalizadas abrangentes a direcionamento a individualidade nominativa e até à própria família no uso de sobrenomes identificativos. Isto é anormal; ofender um elo de pessoas diversas, a constituição de uma família, é denegrir a dignidade de quem ao menos tem a ver com a contenda; família é um bem sagrado; as pessoas não são iguais, e a estupidez de uma pessoa desprovida de uma boa índole, não pode e nem deve ser derramada sobre o seio de uma constituição desse quilate.

Portanto, meça sem fita métrica, com o seu raciocínio, as palavras a serem proferidas; a ofensa a ser dirigida e, se puder, evite; mas se seu ódio supera sua razão, poupe o sobrenome do seu desafeto para com isso evitar a desmoralização, a incredulidade de uma família; lembre-se que ninguém é perfeito e reflita sobre sua própria imperfeição. Concluindo, acho que o melhor é a paz; com ela você se conforta, expulsa o ódio e certamente voltará a sorrir e sentir que também pode amar ao seu semelhante, principalmente à sua casta.

VIVA SÃO JOÃO /

(24 de junho de 2021)

Países, tantos outros, possuem extensão imensurável para prática de sua cultura folclórica;

o nosso não é diferente, regionalizando seus comemorativos conforme datas épicas e esmero de causas, motivos e acontecimentos.

Somos Brasileiros e a lista de datas a serem comemoradas não é nada pequena;

deixando motivos e razões outras no que se refere a comemorações, falemos, pois, do mês de junho, sexto mês do calendário anual, final, portanto do primeiro semestre do período de doze meses.

Entre outros focos, uma festa a ser desenvolvida nesse mês, festa religiosa, é a homenagem ao Santo São João Batista, não exclusivamente, mas principalmente para o povo de origem nordestina, que programam para realizar nesse dia, além das deliciosas goloseimas, maioria à base de milho, também o entretenimento, sem idade, para tudo e todos, com a tradicional fogueira que, quando acesa, ficam em seu entorno crianças, jovens e pessoas mais adultas, onde, também, assam milho verde, batata doce, até abóbora a que chamam de jerimum, além da canjica, munguzá, variados bolos, moderados quentões e tantas outras gostosuras alimentares e prazerosas;

as vezes sim, as vezes não, dependendo do local e espaço, mas, normalmente a euforia toma conta de todos com a dança de quadrilha, quadrilha junina folclórica, gente, com personagens noivo, noiva, padre e tudo mais, na base da brincadeira e seriedade, evidentemente, mas com muita animaçãp.

Essa beleza de festa em que seus participantes são familiares e alguns poucos vizinhos mais íntimos, ela entra noite a dentro e as vezes vai até ao amanhecer, melhor que na maior normalidade e respeito.

Sim! um tópico que quase havia esquecido; toda essa alegria orquestrada por um bom sanfoneiro, acompanhado de um zabumbeiro e um trianguleiro.

Por que escrevi esse texto, ao invés de um poema?

Eu sou, orgulhosamente, nordestino; vivo ausente do meu torrão, onde nasci, vivi e cresci, havia já algumas décadas e...

a saudade judia de mim. VIVA SÃO JOÃO.

LEMBRANÇA DA ZÉLIA

Indecifrável...

...Nem mesmo Einstein, na sua imensurável sabedoria, deixou claro!

Hoje lembrei-me da Zélia, quando tinhamos eu saído da adolescência havia poucos anos, ela não sei, um pouco mais nova que eu; uma considerável distância em tempo, quando namorávamos, ela moça tímida, recatada, mas feliz e risonha; eu um pouco saliente e ousado, mas dentro dos padrões de respeito.

Incrivelmente os detalhes da lembrança pasmam; parecem tão reais! parece vivermos, ou revivermos, uma realidade; realidade de décadas já idas; os detalhes fisionômicos, vestimentas, lugares, principalmente as ações e as palavras de amor em uníssono, sim, de amor em uníssono porque na época amava-se verdadeeira e respeitosamente e todo o romantismo parecia estar nas palavras proferidas, as vezes até ditas por ambos ao mesmo tempo.

Sim! Lembrei-me da Zélia. Da sua casa onde namorávamos no terraço de luz acesa às vistas dos seus familiares e ou de pessoas que passavam pela rua, ou na sala onde também conversávamos amigavelmente ela, seus irmãos e eu.Grata e feliz lembrança.

Mas o impressionante e incompreensível é a sintonia da mente com o tempo incorporando na gente uma realidade que já não é real, mas que parece, a ponto de transcender a própria imaginação. Eu lembrei-me da Zélia! Estava acordado, não foi um sonho, mas... sinceramente fiz uma feliz viagem no tempo que certamente se acopla no meu próprio tempo que corre aos instantes e vai me deixando estórias incompreendidas para contar.

O mais importante é a vida; somos o que somos e nada mais que isso e o amanhã seerá sempre outro dia.

(Carlos Celso Uchôa Cavalcante=29/abril/2022=sexta feira)