MEU PAI (in memoriam...)

Li uma crônica onde um filho faz uma emocionada homenagem a seu pai. Vi nessa postura algo muito bonito, verdadeiro e de uma singeleza tocante. Percebi no texto uma vontade do autor em colocar ali todo o amor que sente por seu pai, que ele considera seu maior amigo.

O que mais me chamou a atenção foi o fato do pai ainda estar vivo, o que o permitirá ler e sentir tamanha homenagem vinda de alguém que ele ajudou a por no mundo e que o ama incondicionalmente.

Foi inevitável não me lembrar de meu pai e do relacionamento que tivemos ao longo de nossa convivência.

Era um sujeito de poucas palavras, que estudou muito pouco na escola, mas muito na vida. Eram em seis irmãos (três homens e três mulheres), filhos de pai alemão e mãe espanhola. Por incrível que possa parecer eu nunca soube muito sobre sua vida, em parte por ele não falar muito e também pelo fato de não ter me interessado muito por isso, o que hoje me questiono.

Trabalhou a vida inteira e, apesar de pouco ter estudado, sempre teve um bom salário, engordado pelas horas extras, para nos proporcionar um bom padrão de vida. Nos domingos em que fazia o plantão de 17:00 às 20:00 horas, lá ia eu com ele para o escritório, no centro da cidade. Foi lá que aprendi datilografia sem ninguém me ensinar, pois ficava o tempo todo atrás de uma máquina de escrever mecânica, datilografando não lembro mais o quê, mas certamente não tinha nada a ver com o trabalho dele.

Nosso relacionamento não foi dos mais próximos, talvez pelo seu próprio jeito e também pelo tipo de educação daquela época, onde havia um certo distanciamento entre pais e filhos, sob o pretexto de impor-se respeito. Eu sempre o admirei, mesmo sem lhe falar isso – às escondidas digamos assim. Mas eu acho que ele sempre soube, apesar de não comentar.

Penso que os pais daquela geração sentiam vergonha de abraçar e beijar seus filhos. Dizer “Eu te amo” então, era impensável. Por quê? Nunca soube.

Já escrevi que os filhos vêem os pais como heróis indestrutíveis até certa altura da vida. Depois muda tudo e você passa a ser um chato, que só dá opinião errada, que não sabe de nada e mais e mais. No meu caso isso não aconteceu, pois sempre vi meu pai como um pai herói mesmo e nada me impediu de vê-lo com muito amor e admiração ao longo de todo o tempo em que estivemos juntos.

Passou por maus bocados, teve que recomeçar tudo de novo e, apesar de termos experimentado maus momentos e superarmos a tudo razoavelmente, infelizmente ele nunca mais foi o mesmo.

Morreu em fevereiro de 1987, numa noite de muito calor. Sentiu-se mal em casa, ele mesmo chamou a ambulância e ainda teve tempo de me telefonar. Saí correndo para sua casa, a ambulância estava chegando junto, o médico passou a examiná-lo, levaram-no, e a última imagem que tenho dele é numa cadeira de rodas, desacordado, sendo conduzido ao interior do hospital. Não o vi mais com vida. Pela madrugada alguém do hospital ligou para minha casa pedindo minha presença pois ele não estava bem. Ali, senti que tinha chegado o fim, meu querido e amado pai havia partido para sempre sem me pedir licença.

Este texto não é uma homenagem a ele, pois seria muito pouco pelo que ele significou e ainda significa para mim. É sim uma lembrança junto com a saudade de alguém que amei muito e talvez não tenha sabido expressar, ou por vergonha, ou por orgulho besta, sei lá.

Hoje digo algo mais ou menos assim: se me fosse dada uma chance de poder conviver de novo com ele, faria tudo diferente. Tenho certeza de que o abraçaria, o beijaria, afagaria seus cabelos e diria com todas as minhas emoções incontidas: EU TE AMO, PAI.

Teu filho.

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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 11/08/2007
Reeditado em 20/08/2007
Código do texto: T601974
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