MOGI DAS CRUZES

Dia 03 de junho de 2017, fomos assistir à festa do Divino Espírito Santo em Mogi das Cruzes, região metropolitana de São Paulo/ Capital, que segundo consta repetiu-se pela 404ª vez.

Como a maior parte das festas religiosas, essa também é herança portuguesa, pois se trata de comemoração instituída pela Rainha (Santa) Izabel de Aragão que foi esposa e rainha consorte do Rei Dom Dinis I de Portugal no longínquo ano de 1288 e, por ser católica fervorosa, ainda estabeleceu que o Espírito Santo fosse o Imperador do Universo.

Neste ano a festa começou no dia 25 de maio e terminou no dia 04 de junho, dia de Pentecostes, quando a igreja católica celebra o que a bíblia descreve em At., 2: 1 a 47.

Mogi das Cruzes anos atrás se notabilizou pela produção de palmito e os camponeses que exploravam a atividade por residirem na zona rural, somente vinham para a cidade na véspera de Pentecostes e esse cortejo de carros de bois que traziam as oferendas, enfeitados com as palmeiras tornou-se conhecido como “Entrada dos Palmitos”.

Hoje em dia, com o controle feito para a preservação das palmeiras nativas e com o plantio comercial os carros são enfeitados apenas com as folhas, mas em nada diminui a beleza da festa onde participam pessoas vindas dos mais distantes locais do Estado e de fora dele.

Muitos cavaleiros e muladeiros com seus animais ricamente arreiados e vestidos com o figurino característico dos rodeios, berranteiros e muitos bois que, pacientemente, cumprem a obrigação (que o ser humano lhes impõe) de puxar os carros carregados com as doações que depois da procissão, são distribuídas com as entidades de caridade cadastradas.

Outra manifestação cultural bem viva em Mogi das Cruzes é a Congada.

Vários grupos participam da festa, como faziam nossos afro-ancestrais que, na condição de escravizados não tinham autorização para cultuar seus Orixás nem reverenciar os seus reis, mas como para tudo existe um jeito, esses cativos sem direitos, usando o artifício do sincretismo, incorporaram ao cortejo católico, o som das alfaias e de outros instrumentos de sopro ou percussão, os passos e gestos das danças, as fitas, os bastões de guerra e a corte do Congo, com o rei, a rainha, com seus trajes coloridos e cobertos por coroas e joias, pajens e tocheiros.

É interessante notar que a moça do paço, também ricamente vestida, que no Maracatu de Pernambuco carrega a calunga, a boneca que simboliza a ligação da força espiritual entre os mundos dos vivos e dos mortos, na congada do Divino, ela carrega a imagem de um pombo pintado de branco ou azul que representa o Espírito Santo.

Desfilam também vários grupos de Folia de Reis, Bandeiras do Divino, (ambas com seus violões enfeitados) Bandas de Música, Bonecos Gigantes, jovens estudantes da pré-escola à universidade local e militares.

Há predominância da cor vermelha, simbolizando o fogo do Espírito Santo em Pentecostes.

Seguindo a tradição, na hora do almoço é servido, gratuitamente, o afogado para todos os participantes da festa. Trata-se de cozido de carne de vaca com batata, cheiro verde e bastante caldo.

Pelo aroma devia estar uma delícia maravilhosa, mas não tivemos disposição para enfrentar a fila multiquilométrica.

Visitamos a igreja de São Benedito (admirável conjunto de arte sacra), o museu do Divino no prédio atrás da igreja de Santana, que é a igreja matriz, e andamos pelas praças e ruas de Mogi das Cruzes, admirando as suas construções antigas e os novos prédios de arquiteturas arrojadas.

O nome do município tem origem tupi ("M’boiji") e significa rio das cobras numa referência ao Rio Tietê de suma importância; para a penetração do homem branco para o interior do continente desde a época do descobrimento; para o transporte e a produção agrícola e de energia elétrica e que, pela ação meritória dos antigos e atuais governantes, hoje, assoreado, canalizado, morto e transformado num esgoto a céu aberto, detém o honroso título (no nosso entender vergonhoso) de rio mais poluído do Brasil.