Diário de uma adolescente vivida

Bom dia, meu diário querido!

Ontem foi Natal. Essa época nos faz repensar a vida. Não ganhei presentes. Mas tenho muito o que comemorar.

Quando assinei minha carta de alforria (quase foi isso mesmo), minha mãe - e elas sempre têm razão –disse-me que parecia uma adolescente. Tanto era a fome de viver fortes emoções.

Casada há 14 anos com um homem machista e dominador, somente depois dos 30 descobri-me sexualmente. Nunca havia me tocado como passei a fazer. Nossos tabus, falta de informação e talvez até um pouco de ingenuidade, esta é inerente ao número de vezes que fazemos amor na vida, deixaram-me meio automatizada na arte do amor. Expedições em nosso corpo humano requerem uma certa ousadia, uma aceitação interior, uma enorme auto-estima adquirida pela experiência e visão de mundo. Haviam me tolhido toda esta relíquia que é o auto-conhecimento.

Já tinha esta visão. Só não a reconhecia. Bastava viver.

Não que me considere a dona da verdade. Já dizia Cora Coralina, famosa poetisa goiana, que nunca devemos achar que já somos experientes o bastante para se esquecer de que a vida é longa e nos traz muitas e muitas experiências. Somos experientes a cada fase da vida, com suas alegrias e decepções. É só ter inteligência para reconhecer os erros e não ter medo de arriscar.

O medo de arriscar nos leva à inércia. Viramos amebas ambulantes. Locomoção sem emoção. O medo de sofrer não nos deixa arriscar. E sem riscos a vida é monótona, triste.

“Sem o sofrimento, nunca reconheceremos o êxtase.” Obrigada, Eduardo Gianetti!

O êxtase é virar para o céu e ver a noite de luar, clara e inebriante. É dar gargalhada sem saber o porquê. É ouvir o canto dos pássaros na janela numa manhã de verão. É saber que temos saúde. É dar valor às pequenas coisas da vida. é dar a volta por cima. É compreender o outro. É se auto-compreender.

“Amar é privilégio de poucos. Amor começa tarde...” e VIVA LA VITA!!!!

Até amanhã, meu diário, querido.