NO TOPO
Pensar em ficar no topo, é pensar em ficar nas paradas de sucesso – mas a vida não é assim sempre, apresenta alguns diferenciais que nem sempre quem chega ao topo pensa. Não é apenas chegar ao topo e ficar admirando a paisagem (como se estivesse no topo de uma montanha), é preciso lembrar que o sucesso é uma estrada na qual você chega para caminhar (não pode parar quando alcançar...).
Nos parágrafos a seguir, uma pequena reflexão sobre estar no topo – que, apesar de determinadas regalias que a vida proporciona por estar lá, às vezes pode custar um preço alto – e por isso tem que fazer valer a pena quando se alcança o sucesso – e independente da área que almejou alcançar.
Nos fins de todas as tardes dirigia-se sempre até o mesmo banco da praça. Sentava e ficava olhando para cima: o topo daquele prédio; sonhava estar lá. Queria conquistar o topo da montanha, usar gravata; mandar e desmandar; comprar uma mansão, ter belos carros, ter serviçais por toda parte – na empresa e em casa, poder viajar tranquilamente sem lembrar necessariamente das contas de fim de mês (ou melhor, de início de mês). Todo dia sonhava ao sentar no mesmo banco e observar o topo do grande prédio!
Certa tarde chegou mais cedo: tinham mandado alguns garis embora – ele estava no meio. Ficou triste e nem demorou muito no banco olhando para o alto do prédio, logo foi embora. No outro dia, pela manhã, sentou no mesmo banco e pôs-se a olhar para o alto. Olhou atentamente para o topo do prédio. A sua mente viajou por várias esferas do conhecimento – e ele tinha conhecimento, não tinha tido ainda oportunidade. Lentamente desceu o olhar até deparar com uma placa: Precisa-se de office-boy.
Levantou-se lentamente, pensou, tomou coragem e entrou no prédio. Conseguiu o emprego. Era esperto e logo ficou por dentro de todos os assuntos da empresa; era competente, subiram-no de cargo. Passou a ser secretário, depois administrador. E, de repente, bateu na porta de sua sala uma senhora: solicitava aumento – ele tinha que resolver, trazia em sua mesa uma pequena placa de administrador, gerente. Sentiu que ela queria chegar também ao topo, e, sem muito pensar, logo a despachou apontando motivos banais.
No outro mês se viu apertado por uma gravata, sentado em uma cadeira de espuma forrada por um pano de veludo vermelho, com uma nova placa na mesa: Diretor-Sócio-Proprietário. Vê-se só na sala. Vai embora. Todos o adoram e o respeitam para que não os mandem embora. Quase aquela vertente que não passa sem ser percebido: os tais bajuladores; puxa saco – ou fazer o melhor para não perder o pão de cada dia.
Em casa faz uma varredura em sua mente – alguns meses já se passaram – melhor: três anos. Sua casa é muito grande, não consegue ter a dimensão real do que tem – melhor do que sonhara; ouve apenas e tão somente os ecos de seus passos. Lá fora o cão late – um cão já velho que fora a pedido de uma amiga agregado à casa – e que não servia de nada, pois pouco latia – e costumava dizer que apenas estava ali para comer...
Volta à empresa, senta na cadeira de espuma forrada por um pano de veludo vermelho, solta o nó apertado da gravata. Já é fim de tarde, olha da janela para o banco onde tempos atrás estivera sentado: uma senhora está olhando para cima. Será que ela quer chegar ao topo, porque ele quer descer – e ser feliz de novo só olhando para cima.