O BARZINHO (1988)
Durval Carvalhal
Durval Carvalhal
O barzinho é uma casa de aconchego, para onde correm todas as pessoas, seja para descansar a cabeça, que durante o dia só pensou o cotidiano duro, cheio de trabalho, e muitas questiúnculas; seja para começar uma possibilidade de amor; seja para curtir simplesmente a gostosa noite; seja, enfim, para uma infinidade de sejas.
A verdade é que o barzinho é uma entidade mágica, atraente, cativante, faz parte da cultura popular e do cardápio diário. De segunda a segunda, todo barzinho tem cliente papeando e tomando chope. É o lugar adequado para se falar dos políticos e da política; do filme que agradou em cheio; daquela peça incrível; do show de fulano, do violão de sicrano, da performance do dançarino tal, do lançamento poético que vai acontecer, das brigas amorosas, de quem está deitando fácil, da inflação que diminui a cerveja. Quer dizer: o barzinho é uma espécie de câmara de compensação, por onde transitam os mais diversos cheques de informações.
Quem frequenta barzinho, sempre está bem informado. Sabe das coisas. Conhece novas pessoas. Está de bem com a vida. Tem mais bom humor. É menos metafísico. É mais filosófico, mântrico, sensível, ponderável. O barzineiro ou boêmio é uma pessoa afável. Ri com arte e espontaneidade. Sabe ouvir. Fala gostoso e com sabedoria. Vê com clareza. Olha animado, com descontração e dengo. Pede com gestos e é paciente. Não corre à toa em busca do nada. Sabe que amanhã vai morrer; por isso, não é arrogante e vive o presente em abundância responsável.
O barzinho é uma festa que invade a noite e, ao invés de cansar, energiza a vida daqueles que o frequentam, dando-lhes mais vontade de viver...
CARVALHAL, Durval. Um Pouco de Prosa, 1988. Salvador.