UMA GRANDE RIQUEZA
O automatismo com que lidamos no quotidiano parece nos fazer insensíveis diante de tudo o que nos rodeia. São tantos os afazeres que não paramos sequer por um minuto para prestar atenção naquilo que realmente é importante a cada um de nós. Por quantas vezes acordamos em uma nova manhã e não sabemos “dar um bom dia” a quem convive conosco? E o dia passa por nós de tal forma que corremos de um lado para o outro e quando nos voltamos para nós, por vezes, não fizemos o que mais devíamos fazer, que era ser polido com quem amamos que era simplesmente olhar nos olhos de quem consideramos invariavelmente. Noites e dias passam como num passe de mágica, sem vida, sem cor, sem alegrias e não nos valemos até quando a colheita não ocorre como especulamos; até quando as respostas não nos são dadas como esperamos ou até quando os sentimentos não correspondidos nos trazem certa melancolia e nos fazem pensar porque as coisas são ou estão como estão. Desse modo podemos nos lembrar, como reflexão, das palavras do estadista britânico, Winston Churchill, de que “a sorte não existe. Aquilo a que chamamos de sorte é o cuidado com os pormenores”.
O psicanalista, do Império Romano, Sigmund Freud, nos dizia que “o caráter transitório do belo aumenta ainda mais sua valorização. Uma flor não nos parece menos esplendorosa se suas pétalas só estiverem viçosas durante uma noite”. Percebe-se que não seria imprescindível tanto dispêndio igualmente, para que pudéssemos ter uma rotina mais saudável e mais prazerosa com os que nos são caros. O impasse é que somos inseridos em uma sociedade, por muitas vezes, desumana, sem compaixão, que não se envolve com a valorização dos outros. Por outro lado se não nos policiarmos, acabamos por entrar nesse formato também. E além de tudo, sopesamos somente quando a consequência é chegada e aí pode ser tarde demais. Pois pode ser que não haja mais nenhuma gota de sorriso, nenhuma flor de compaixão, nenhum brilho no olhar daqueles que estão conosco e poderemos ter perdido grande oportunidade de termos vivido momentos singulares e de imenso valor, que poderiam nos impulsionar muito mais aos outros setores da existência.
Nesse intuito compreende-se que o caminhar diário é permeado de um conceito maior de cuidado com todos e com tudo que lidamos. E por isso cada detalhe, cada ideia merece atenção descompromissada. E, por conseguinte é digna de que abdiquemos de todas as dificuldades, tristezas, rivalidades, inimizades em uma caixa, em um fundo escuro e abramos a caixa de luz, aquela com a qual possamos extrair o melhor que há em cada um de nós. Nesta caixa haverá mais abraços, mais sorrisos, mais compartilhamentos de emoções, mais compreensão, mais altruísmos, mais humildade, mais simplicidade, mais riqueza de sabedoria e por que não mais amor e afago para com os outros. Temos por vezes permitido com que o dia a dia esteja sobre nós como um rolo compressor que leva a tudo, inclusive o maior tesouro interior de cada um. É válido no transcorrer abrirmos por mais vezes essa caixa de bens imateriais para que tenhamos uma saúde mais equilibrada, uma qualidade especial de vida, que nos permitirá sermos verdadeiramente quem somos sem perdermos nossa essência e sem estarmos preocupados em demasia com as intempéries que nos são acometidas frequentemente. O grande empreendedor norte-americano, Henry Ford, doutrinava que “há um punhado de homens que conseguem enriquecer simplesmente porque prestam atenção aos pormenores que a maioria despreza”.
Tudo ao redor concorre para a nossa inserção no meio ambiente social. E por assim dizer, a busca pela perfeição espiritual deve ser constante, haja vista que a qualquer momento podemos ser atropelados pelo inesperado. E mesmo assim, se mantivermos um coração manso, se estivemos atentos, em vigília e em correção constante poderemos suplantar barreiras que poderiam ser vistas como intransponíveis. Todavia pela preparação, pela educação da emoção, pelo controle do pensamento, pela gestão para uma mente saudável e de promoção de paz poderemos promover uma sensação de tranquilidade a nós mesmos e aos outros com quem lidamos no calcorrear habitual. Dalai Lama, líder religioso tibetano, nos orienta com o seguinte: “se nos examinamos a cada dia com atenção e vigilância, interrogando nossos pensamentos, nossas motivações e suas manifestações sobre nosso comportamento exterior, poderá emergir em nós uma real oportunidade de mudança e de aperfeiçoamento pessoal”. Para isso cada vez mais observamos que vale apena se cuidar e cultuar cuidado em cada passo e em cada vez com que nos encontramos ou reencontramos com alguém. Cada palavra, cada ação tem valor irretocável aos ouvidos alheios, ainda que não saibamos a hora ou como tudo irá acontecer. Estejamos atentos!