MARAVILHOSA SAUDADE !

MARAVILHOSA SAUDADE !

"Quem quiser falar de mim

cante e grite pela rua (...)

quem de mim se desgostar

que me feche a porta sua"!

(2 trechos de quadrão, com

mote, de autor não identificado )

A entrevista de Nei Matogrosso --com Pedro Bial -- foi uma lição de esperança, grito de liberdade pessoal que todos deveriam aprender. "Seja você mesmo, não o que querem que sejas!", mesmo pagando o preço caro de suas escolhas e preferências... ninguém deve se guiar pelo outro, o tal próximo, por vezes distante em objetivos e afinidades.

Mas o que mais me surpreendeu foi a declaração de que não tem nenhuma saudade do Passado, "zerou" suas pendências, viveu todas as dores e perdas no momento em que sucederam e hoje ESTÁ LIVRE. Sou exatamente o oposto, me agarro ao (meu) Passado, o revisito constantemente, boa parte de meus poemas tem por base o que vivi, meu intento é realizar alguns dos sonhos da juventude, ainda comigo 45 ou 50 ANOS depois. "Quem vive de Passado é Museu..." diz a plebe ignara, em seus momentos de "filósofa"! No meu caso, tive momentos de felicidade que valem a pena recordar ainda hoje, embora no Presente eu me mantenha vivo (e ativo) a duras penas e apesar de não poucos pesares. Certamente, num distante Futuro, não terei a menor saudade do período atual... mas continuarei rememorando os belos dias de "volley" e "pelada" dominicais nas areias escaldantes de Copacabana, nos anos 70/80.

Nei citou Cazuza, que admiro pelas posturas que adotou, mais do que pela música... tudo indica que conheci o garoto rebelde por volta de março de 1982, num playground de edifício de rua paralela à avenida Visconde de Pirajá, no final de Ipanema. Íam fazer um dos primeiros shows da Banda BARÃO VERMELHO, quando o síndico "barrou" o ensaio. Meu projeto de um grande evento de rock na Praia de Botafogo, o ano inteiro, me levou a conhecer perto de 15 Bandas juvenis, todas excelentes,semi-profissionais, criativas, embasadas na cena rockeira internacional... e todas "falecidas". É esse Passado que recordo agora, é esse momento indelével na memória, maravilhosa saudade que me dá prazer relembrar. Visitei meia dúzia pelo menos, assisti seus ensaios, gravei fitas sofríveis de algumas com um radiogravador barato e, quase 30 ANOS depois, "dei um fim" no acervo num azíago dia de julho de 2009.

Trabalhando já na Redação do BALCÃO -- jornal carioca de classificados gratuitos e de recados -- eu contactava músicos e Bandas e mantinha acesa a "chama" do futuro "Rock'nRoll Show". Conheci (Luís) diCastro, da excelente Banda SANGUE DA CIDADE, via TV Globo, se apresentaram no Fantástico. Um letrista me procurou no jornal e eu o levei ao "diCastro". De violão em punho musicou na hora os versos do sujeito, bem ao estilo "Status Quo", rock da melhor qualidade. Numa ruela de Botafogo me demonstraram o rock progressivo instrumental da "Vento Sudoeste" e, na Lagoa, o hardrock da "Fúria do Dragão". Alguém me falou de um bluesman americano de férias no Brasil, mr. Glen ou Greg... lá fui eu com o gravador! Proibiu a gravação, mas ouvi -- só com violão e voz -- a melhor interpretação de "Thrill is Gone" já feita !

Os melhores momentos estavam por vir... num apartamento elegante da última rua de Copa, talvez a Rainha Elizabeth, um educado e paciente Dalton -- jamais soube seu sobrenome -- me aturou em vários ensaios, com violão ovation de trazer lágrimas aos olhos e uma guitarra negra mais amada que a sua própria mãe, até onde vi. Maravilhosa saudade... restam-nos agora, raps, axés, funks, arrochas, houses, "sofrência" cantada aos berros, technobregas e esse híbrido "sertanejo" (sem universitários) como o melhor (?!) que a nova geração pode nos ofertar. Só me resta o suicídio !

"NATO" AZEVEDO (escritor, poeta e compositor) 30/maio 2017