POESIA SE FAZ COM PALAVRAS

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"O poeta é poeta não pelo que pensou ou sentiu, mas pelo que disse. Ele não é criador de idéias, mas de palavras. Todo seu gênio reside na invenção verbal." (Jean Cohen, professor e crítico literário)

Para muitos poetas essas frases podem ser um tanto incoerentes. Entretanto, se formos refletir sem preconceitos, chegaremos à conclusão que não é sem razão as afirmações das frases. Muito embora seja a força do sentimento que auxilia ao poeta na seleção e combinação das palavras.

Portanto, a poesia não é sentimento que se pensou ou sentiu, nem a expressão de um amor, de uma saudade. A poesia é a forma peculiar de dizer, através de palavras, o sentimento; de expressar o amor, a saudade.

Assim entendido, a essência da poesia está na palavra, no trabalho com a palavra, que se transformará em sentimento. Está no dizer de forma incomum o comum. Dizer de forma original, dizer poeticamente. Oferecendo, como espetáculo poético, a palavra.

Na poesia, a palavra ultrapassa sua função meramente comunicativa e se torna, ela própria, a matéria prima para a obra de arte.

Quantas vezes poetas transformaram versos defeituosos ou inexpressivos, isto é, sem poesia, em versos carregados de lirismo, pela substituição de uma ou algumas palavras exprimindo, no entanto, o mesmo sentimento ou a mesma idéia que as substituídas.

Se compararmos, por exemplo, a correção que fez Castro Alves, sexto verso da segunda oitava do poema “Mocidade e morte” (Espumas Flutuantes), verá que a essência da poesia está na palavra. Na primeira versão do poema publicada em São Paulo (1868 ou 69) sob o título de “O Tísico” o verso era: “Adornadas com os prantos do arrebol”.

Castro substituiu este sexto verso por: “Que banharam de pranto as alvoradas” formando com o verso anterior, como diz Manuel Bandeira “um dístico de raro sortilégio verbal”:

Vem! Formosa mulher — camélia pálida,

Que banharam de pranto as alvoradas.

A idéia que existe em “Adornada com os prantos do arrebol” é a mesma expressa em “Que banharam de pranto as alvoradas”. A diferença, de suma importância, está nas palavras do segundo verso que contêm a essência da poesia, ou seja, no segundo há poesia, no primeiro não.

Disse Graciliano Ramos em uma entrevista: “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer".

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Se você encontrar erros (inclusive de português), relate-me.

Agradeço a leitura do texto e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre.

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 10/08/2007
Reeditado em 28/05/2013
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