O CLAVICULÁRIO QUE GUARDAVA HISTÓRIAS
A quinta-feira passada trouxe uma chuva fina e gelada, sacudida para todos os lados pela brisa, que de tão fina, mais parecia uma nevoa.
Estas chuvas deixam as calçadas escorregadias, bem nos pontos que as pessoas precisam para saltitar entre uma lajota solta e um buraco. Num desses desvios, havia um claviculário abandonado, daqueles que são guardadas chaves, que pela a ação da umidade começava a desfoliar o fundo. O que parecia uma moeda salientou-se misturado entre os cacos de vidro da portinhola quebrada. Moedas cor de prata, do tamanho de uma tampa de garrava, não são atuais, então opa, poderia ser uma relíquia.
Melhor examinando eram medalhas de futebol, uma delas de formato trapezoidal, cunhada em 1946, trazia o nome do patrocinador e sugeria homenagem ao goleiro de nome grafado por impressão, diferente das demais inscrições, todas em alto relevo. As outras duas medalhas, de formato redondo, traziam somente o nome liga atlética e a palavra campeão, seguida dos anos de 1929 numa e de 1934 na outra.
Objetos aparentemente carregados de história, mas sem valor comercial, pelo menos para os trabalhadores que tinham passado recolhendo o material reciclável, descartado pelas pessoas.
Das medalhas de atletismo e futebol que tenho, a maioria já está enzinabrada ou enferrujada, assim talvez nem atinjam os quase noventa anos da primeira que encontrei. Até nem faço muita questão, diferente dos 97 anos de lucidez, do homenageado, numa delas.
Enfim, bisbilhotando pela história, encontrei o velho goalkeeper, consagrado em diversos apontamentos, dando conta de suas qualidades e conquistas e inclusive de sua entrevista concedida em 2013.
Deixarei que as três medalhas amadureçam, até que encontre uma maneira menos egoísta de tê-las.
Quanto ao claviculário, feito de cedro, com fundo de feltro verde, será recuperado e destinado a guardas as chaves de casa, bem no modelo dos anos setenta do século passado.