Uma Crase e Uma Crise
A dona Firmina caminhava pelo centro da cidade que de tão movimentado, parecia mais o centro do universo em tempo de Dia das Mães. Ela ganhara um dinheirinho do marido para comprar o que quisesse como presente e levara além do dinheiro, o filho, Edu, para ajudá-la a escolher.
Foi que estando à porta da loja, o telefone toca e Firmina faz cara de triste. Era o marido dando uma má notícia:
- Querida, infelizmente fui diagnosticado com astigmatismo e comprei um óculos à vista e caro, então se você puder poupar o dinheiro que lhe dei...
- Você comprou à vista? Perguntou a mulher.
Edu que ouvia de longe, tentou entender o que se passava e perguntou à mãe, que muito amofinada, só repetia; “Seu pai que tem problema no olho e compra à vista”. Que pena que crase não é fenômeno fonético!
O menino assustou-se, afinal de contas não é todo dia que se compra uma nova vista quando se tem problema ocular. Preocupado com a mãe que não teria mais o presente, Eduzinho tenta ser complacente e pergunta quanto custara o gasto do pai, ao que a mãe responde: “O olho da cara, meu filho!”
Cruz credo! Era o fim! O pai de Edu estava mal mesmo, perdera a visão de um olho e ainda dera o último olho para pagar o conserto do primeiro. O pobre garoto até se sentia culpado, vai que ele era o responsável pelo caso do pai, não se sabe, por isso ele decidiu ajudar. Chegou em casa, improvisou uma bengala com o cabo de vassoura. Sua mãe não brigaria porque seria para as andanças do papai. Treinou o cachorro para ser cão guia ou, se a tarefa exigisse muito do cão, que fosse um bicho mais cordial e que não sujasse a casa para o papai não pisar em nada ruim. Edu elaborou uma lista de quefazeres para auxiliar o amado e pobre pai, ele se comprometeu a ler jornais e descrever partidas de futebol para o entretenimento do bem-amado genitor.
Tudo ia bem até que dona Firmina sente falta da vassoura e pergunta ao rapaz que fim ele dera.
- É tudo pelo papai, mamãe, tudo pelo papai.
Ela achou a atitude bem bonita. “O menino já tem senso de economia, que lindinho!”, pensava ela, sem nem saber o porquê do sumiço da vassoura.
O pai chega e quando a mãe já se prepara para reivindicar seu presente, o menino põe no seu ombro a mão do pai e comanda suavemente: “Olha o batente, paizinho, cuidado com sua nova vista, sua vista comprada!”
A mãe desafrouxou o riso e esqueceu-se de reclamar da falta de presente. O pai, que estava com vergonha de dizer para o filho que usaria óculos, se surpreendeu com amor do filho pelo novo globo ocular. E para a solucionar uma crise familiar bastou uma bendita crase.