O Perfume Quebrado.

           Ela seguiu em frente sem nada dizer, absolutamente nada, apenas o silêncio, nada mais que o silêncio. Elisa estava apressada, passos largos na calçada esburacada do centro da cidade de Sorocaba, olhar fixo no chão.

           Algumas horas antes Elisa havia comprado uma bolsa nova em uma das lojas do centro, ela que tinha arrumando o cabelo, pintado as unhas e tirado as sobrancelhas. Elisa queria impressionar seu novo namorado, os dois tinham combinado de assistirem a um filme na tarde daquele sábado, Elisa estava animada. Eram duas horas da tarde, ela estava no centro da cidade desde às dez horas da manhã, correndo pra lá e pra cá, resolvendo uma coisa e outra, e, entre um afazer e outro ela ainda encontrou tempo para produzir-se para o namorado Marcelo, que, havia combinado com Elisa de encontra- lá na frente da matriz da praça central às três horas da tarde em ponto. Mas Elisa acabou atrasando-se um pouco, ela queria comprar um presente para impressionar Marcelo. O perfume escolhido, uma beleza, Balbec, edição especial, o presente embrulhado com cuidado, o bilhete escrito à mão, palavras de amor, os dois haviam se conhecido a pouco tempo, em um site de relacionamentos pessoais, embora sua mãe fosse contra o relacionamento ela insistia dizendo que ele era boa pessoa. Quando finalmente Elisa chegou na frente da Matriz, as três e meia da tarde em ponto, lá estava o namorado, impaciente, de um lado para o outro, cuspindo fogo, cigarro na boca, visivelmente embriagado. Elisa assustou-se com a atitude arrogante do namorado que nem deixou ela falar.

           - Será possível sua sem noção, você não consegue ser pontual, eu disse três horas da tarde e não três e meia. O que você ficou fazendo o dia todo nessa droga de centro?

           - Meu Deus Marcelo, o que é isso, você bebeu? Eu não acredito que você bebeu novamente, você sabe que não pode beber Marcelo, o médico já te disse isso. Você é um insensível, troglodita, eu estava resolvendo os meus problemas sabia, não estava andando a toa por aí.

           - E o que tanto você fez por ia? Diga o que droga você ficou fazendo a manhã toda? Eu bebo sim e você não tem nada a ver com isso.

           - Vocês homens, são todos iguais, não conseguem perceber nada mesmo. Quer saber de uma coisa, vai embora Marcelo, me deixa em paz, a mamãe tinha razão foi um erro esse nosso relacionamento, foi um erro.

           - Se é assim que você quer, por mim tudo bem, eu prefiro ficar em casa do que ficar aqui com sua chatice.

           Lágrimas nos olhos de Elisa, o olhar fixo no chão, nas mãos o embrulho com o perfume, ela apertou o passo, não queria que o noivo a seguisse, olhou para trás pelo menos umas duas vezes, ao longe Marcelo apenas olhava a namorada distanciar-se, quando de repente, sem perceber Elisa atravessou o sinal vermelho, um corsa branco veio em alta velocidade e a acertou em cheio, a pancada foi tão forte que arremessou Elisa na parede da calçada oposta, o perfume voou alto, caiu ao seu lado, houve profundo silêncio naquele momento... Desesperado com a trágica cena que acabava de presenciar, Marcelo correu para Elisa, mas não havia mais tempo. O  corpo estirado no chão, ao lado da poça de sangue e o vidro de perfume quebrado, o bilhete escrito salpicado de sangue, lágrimas nos olhos de Marcelo, um pedido desesperado de perdão que jamais será ouvido, jamais, jamais…

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 30/05/2017
Reeditado em 30/05/2017
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