Arrastão em Pitangui

Sem ser muito familiar com a pescaria, assinalo que o único lugar onde a palavra arrastão tem conotoção positiva - que eu conheça - é Pitangui. E Pitangui, tão-só, muito embora a participação essencialmente masculina nesse tipo de atividade possa gerar alguma desconfiança, algum desentendimento doméstico, mas logo logo todas as dúvidas se dissipam.

E como. Pois, afinal, o Arrastão além do nome e endereço - agora fixo - reúne varões beberrões e comilões do mais alto quilate. E semanalmente, quase que religiosamente às terças - justamente na hora do terço - e se prolonga até que a farra acabe, ou que a soneira desabe.

E é responsável o Arrastão. Já de maior idade, contém em seu núcleo fundadores e adesistas iniciais que vão resistindo bravamente aos desafios de tombar gélidas loiraças noite adentro, em meio a animadas sessões de papo, piadagem, gozações e outras saudáveis formas adultas e adulteradas de bullying amistoso.

Com apenas um lustro de convívio, sei ainda muito pouco da história dessa instituição da machonaria pitanguiense, que também incorpora forasteiros que saibam molhar a língua em perfeita comunhão.

Entre os mais antigos e originais frequentadores que têm o King Arthur como anfitrião e informalmente presidente vitalício, percebo mais amiúde e mais conspícua, a presença do Oscar, do Ricardo, do Zé Maria, do Fagundes, do Lecy, do Matias, de pelo menos dois Valérios, Ângelo e Renato, dos irmãos Freitas, Juca e Dimas, dos três Joãos, embora só dois deles gostem do João - Bosco, da Emater e Clark - do Phardo, do Senhor Homero, o decano do grupo, do Luís, do mano Tadeu, do Fauzy, do Dinho, e duns outros mais que só incluo nesta lista se houver propina à vista. Mas a verdade é que se vão renovando os quadros, novas adesões, sempre muito bem-vindas desde que bebam e comam bem. Mas a verdade é que há muita gente boa, que se acha facilmente, a toa...

Os encontros semanais reúnem uma média sempre superior ao número dos apóstolos antes da traição, assim que a ceia está sempre posta e, embora haja vez por outro um vinhozinho, o milagre mesmo faz a cerveja, intercalada por uma pinguinha que quase sempre alguém se compraz em trazer e suas virtudes promover.

Tirante a eterna rivalidade entre Cruzeiro e Atlético, que ocupa apenas 95% da temática, os restantes cinco por cento são muito bem aproveitados, e significativamente variados.

Numa média de duas vezes ao ano, o Arrastão abre suas portas e os corações às companheiras e familiares dos solitários machões: chamado Festivo, realiza-se em geral nalguma propriedade rural dos participantes e, nesse quesito a latifúndio do Fagundes é de de muito e de muitos, o favorito.

Figura sempre evocada com muita saudade no grupo é a de César Caldas, fundador e amigo de todos que, aparentemente, adiantou-se para convencer São Pedro a liberar o álcool nas sumas alturas, pois há um cordão interminável atrás de si...não muito apressado, é claro...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 29/05/2017
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