NÃO DÁ LUCRO MAS É DIVERTIDO


...E a grama cresce,sem dó nem piedade.Os parcos recursos nem sempre permitem dar-me ao luxo de contratar um jardineiro.O espaço é bastante grande e dá trabalho.A vantagem (ou desvantagem) de se viver numa cidade pequena é o fato de tornar-se conhecido (e amigo) de quase todo mundo. São êsses "conhecidos & amigos" que fazem a alegria ou os pequenos aborrecimentos de nosso dia a dia.No meu caso,muito mais alegrias que aborrecimentos,até porque costumo levar a vida numa boa,apesar dos tropeços que os caminhos,vez e outra,nos apresentam.
Mas,voltando à grama...
Sol escaldante,céu azul,leves rajadas de vento dando um refresco à tarde.A parte interna,jardim e quintal,devidamente aparada.Polaca dando seu toque feminino nas cravinas,beijinhos,margaridas e outras amenidades do gênero.

Do lado de fora do muro,eu,"ralando" na máquina de aparar grama. , Ladeira de pedras cruzando à frente da casa onde moro.Vai e vem incessante.Coisa rara,até parece que o pessoal lá das bandas da colina resolveu descer em passeata pela minha rua.
Eu,ali,fazendo exposição da figura.Barulheira do motor da máquina,a me contar "segredos de aparador".
Da rua,uma voz (incompreensivel),um aceno,uma cara sorridente.
Desligo a máquina. (Deve ser algo importante,confabulo com meus botões)
_Não lhe ouvi.Pode repetir,por favor?
_"Pelando o peito...Gordo" kkkkkkk.
Correspondi com um sorriso amistoso (falso,é claro) ainda que internamente o "gordo" estivesse pensando: "Vai-te......"
O gracioso tomou seu rumo e a faina de lutar contra o mato prosseguiu de minha parte. Vou para os arremates da primeira etapa.A outra máquina (aquela que dá acabamento aos cantinhos) resolve de enguiçar.Abro-lhe,(agora irritado),vou trocando o fio,quando uma sombra revela a aproximação de um vulto ao meu lado.
É animado,e rescende à quem tomou um banho à poucos instantes.
Eu,cheirando à inhaca de suor e cansaço.
O "animado" abre o diálogo.
_Com todo êste calor,hein!...És corajoso.
Comento o defeito do aparelho em minhas mãos. A resposta "solidária",vem rápida e...animada.
_Ah! Mas esta marca que tu usas não é boa mesmo.Vou lhe dar um conselho.Só use coisa "que  preste".
Se não for da "Trapp",chegue fogo kkkkkk...
Sai,deixando um rastro de cheiro de sabonete pela rua. Penso comigo:"Eu mereço!!!".
Não "cheguei fogo",nem adquiri a marca que o saliente me indicou.Dei um jeito na enguiçada e a coisa fluiu muito bem.
Passo para uma segunda etapa.Agora na esquina da outra rua.Por ali há um capim esquisito,amarra-se nas facas cortadeiras e dificulta a tarefa.
Mais um xereta,surge em meu caminho.
_"Tá dura a mão,aí véio!"...
(Véio és tu! Tua cara o delata),pensei,é claro,enquanto gentilmente fui argumentando.
Pois é.meu caro senhor "X",os cabelos de princesa dão muito trabalho mesmo.
Olhou-me com ar de  deboche, quase indignado.
(cabelos de princesa,é a denominação poética que meu vizinho Alcídio,vindo recentemente do sudoeste paranaense,dá ao famigerado capim.Achei interessante, poético, e a adotei). _Quem lhe disse que é "cabelos de princesa?" pergunta-me o debochado.
(Agora  com um  risinho sarcástico no canto  da  boca,como a  sugerir,seja  este  velho, "uma  saltitante  e  deslumbrada  figura".
Foi o Alcídio,respondo-lhe um tanto sem graça.
_"Cabelos de princesa" é o "c..." do Alcídio.Isso aí é capim barba de bode,capim b a r b a d e b o d e, (soletrado),é "macho!",de  "princesa" (abre  aspas  com os dois polegares),tem  coisa  nenhuma.
Faz esta colocação e toma o rumo da farmácia com ar meio azedo. Ouço-lhe ainda ruminar um pensamento.
_"Cabelos de princesa",Hum!...Francamente!
A tarde vai escorrendo lenta entre um e outro passante.A partir daí ninguém mais sentiu-se no direito de dar os seus pitacos sobre  este  ser  sofrente e  trabalhador.
Tarefa terminada,tudo nos conformes,acabamentos no capricho... Sento-me na varanda e exerço o sagrado direito a saborear um suco bem gelado enquanto vislumbro minha obra de arte.
Satisfeito com  o  resultado,reflito uma vez mais com meus botões:
"Não dá lucro,mas é divertido"
Joel Gomes Teixeira

Texto  reeditado
Preservados os comentários ao  texto anterior:




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17/11/2012 23:39 - Lilian Reinhardt
É isso mesmo poeta da minha terra, ainda bem que tem um passarinho/poeta que anota todos esses pitacos na Aldeia do coração da gente. Ameiiii!!!abrço grande!


16/02/2012 00:12 - Diego Guimarães Camargo
Meu amigo Irastiense, como vai?! Quanto tempo! Pois é, andei algum tempo "ausente", mas acredito estar de volta. E já volto feliz, ao ler uma crônica sua que - como sempre - é suave, doce e engraçada! Em que lugar bonito você mora, que inveja! Espero que você continue sendo o ser que os seus textos demonstram que você é! Muita paz. Abraços de seu amigo, Diego.


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11/02/2012 14:00 - YARA FRANÇA
Que pessoal enxerido e sem tato, pra alguem que cuida do jardim. É de chatear ... amei a foto da mafnolia. tenho muitas fotos de minhas plantas, principalmente as heliconias.


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09/02/2012 10:39 - CLAUDIONOR PINHEIRO
Bravo cronista de Irati transformas-te uma dura e penosa tarefa do nosso cotidiano em linda crônica recheada de toques de humor muito bem temperada. Deliciando-me com suas ótimas crônicas. Saudações itabiranas.


02/02/2012 01:58 - Chico Chicão
Meu caro Joel do meu Paraná querido.Quer moleza,Joel? Senta num saco de batata e espera virar purê.KKKKKKKKKKKKK Estas cidades do interior são fantásticas.É um mundo que não aparece na TV.Gostei da tua faina bruta.Depois eu tomaria uma Itaipava,bem geladinha c/queijinho picado e azeite.E ficaria admirando a *obra-de-arte* com aquele cheiro de mato mexido e terra revolvida.Êta interior,coracão do Brasil! E você fica *batendo bruaca* com os vizinhos Solertes e Altaneiros.Que bom te ler,Joel.Obrigado.Fique na paz!


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01/02/2012 19:17 - Lourdes Borges
Poeta, perfeita narração. Dá para visualizar as cenas.Abraços da Lourdes Borges.


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31/01/2012 22:41 - Giustina
Teu relato é tão real que vislumbrei as cenas! Piteco todo mundo gosta de dar, mas uma mãozinha... As fotos estão lindas, como todas as que aqui colocas.


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31/01/2012 16:31 - Lianatins
Excelente tua crônica poeta Iratiense, e as imagens, sempre original a forma como transmites; as palavras fluem...parabéns! Um abraço fraterno da Liana.


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31/01/2012 13:01 - Anita D Cambuim
Há prazer que não tem preço. Ver o resultado do trabalho feito, o cheiro de mato cortado, e depois uma geladinha - (uma latinha de cerveja é o que me dou quando faço o jardim), é bom demais!


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31/01/2012 00:58 - Maria Dilma Ponte de Brito
Meu caro amigo....adoro grama...minha casa tem demais...Adorei seu texto....bem contado e divertido.


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30/01/2012 23:01 - CONCEIÇÃO GOMES
Depois de toda a trabalheira,um suco bem gelado, sentado numa espreguiçadeira, é bom demais...E vale a pena ver a grama aparadinha, toda certinha nos cantinhos. Eu gosto.
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30/01/2012 19:40 - Sunny L (Sonia Sancio Landrith)
Você é uma pessoa tão transparente no que escreve que qualquer texto seu que eu leia, visualizo direitinho. Tudo! Até os cantinhos da grama e o sabor do suco depois do serviço pronto. Abraço!


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30/01/2012 18:48 -
Amigo Joel. Você parece até que está contando a minha saga mensal.Aparar grama é o meu carma.E esta maldita máquina de fazer os cantinhos, parece que tem vida própria, os fios vivem se escondendo toda a hora. Tenho notado o teu sumiço da minha página, é por causa da grama? Um abraço meu amigo, e parabéns por mais belo texto!


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30/01/2012 18:12 - Aristeu Fatal
Joel - Mais um texto campestre, daqueles que causam inveja a quem mora na selva de pedra da cidade. A primeira foto é da rua onde você mora? Você é um privilegiado! Já lhe falei, certa vez, que Irati deve ser um paraíso. Isso tudo é muito merecido, um cenário para o poeta! Abraços