AS TUAS LÁGRIMAS
As tuas lágrimas! Onde estão as tuas lágrimas? Será que perdidas na imensidão dos mares, dos rios ou lagos? Será que elas subiram aos céus e lá se juntaram às nuvens e, hoje, com elas passeiam pelas estradas azuis do firmamento? Sim ! Tuas lágrimas podem ter subido, porque a tua dor ferveu demais em tua alma e, por certo, atingiram o mais alto grau de ebulição e, assim evaporaram-se pelos teus olhos sofridos.
Mas, agora, onde estão as tuas lágrimas? Não sabemos responder a tal indagação. Não obstante, é verdade que elas podem ser, hoje, uma estrela a iluminar o teu próprio caminho, podem as tuas lágrimas, sob a forma poética de orvalho, estarem dormindo no cálice de uma flor, dando-lhe vida, para que ela perfume e empreste seu colorido à Natureza.
Crê que teu pranto nunca foi em vão, principalmente, quando não sentiste no peito o impulso da revolta, embora fosse injusto, aparentemente, o teu padecimento. Tudo está certo. Nada está errado sob o prisma da Justiça Divina, pois não podes adivinhar o montante de teus débitos. E quem sabe se o resgate de hoje não é nem uma milésima parte da dívida de outrora? Quem sabe se não estás recebendo uma anistia, ou moratória, para que teu passivo possa ser diminuído, já que será por demais pesado, quase insuportável, o pagamento vencido há longo tempo?
Olha, eu não sei se foi a flor ou o poeta quem morreu primeiro. Só sei que ambos perfumaram a vida. E da essência dos versos que deixou na terra um inesquecível vate, vale a pena tornar a sentir a fragrância desta verdade, que assim, sabia tão lindamente dizer: “ A mão que afaga é a mesma que apedreja”. E nós, invertamos agora esta axiomática rima, para te afirmar: “ A mão que apedreja é a mesma que afaga”.
Por isso, não percas a esperança de vires receber a ternura daquelas mãos que um dia tanto te fizeram chorar, mas, certamente, muito breve, na Eternidade dos tempos, virá servir-te a delícia da paz. Não a paz que vem do cessar de fogo, não a paz que vem dos tratados de não beligerância, nem a que vem dos acordos de armistício. Mas a paz que vem do amor fraterno, do perdão, de infinitas vezes, da Misericórdia Divina.
Eu não sei onde estão as Lágrimas; mas posso garantir que repousam em lugar seguro e realizam um trabalho de fertilização, um serviço de evolução do mundo; quer sejam, agora uma estrela, quer sejam uma gota perdida nas imensidões das águas; quer sejam um borrifo de orvalho na corola de uma flor.