JANELAS CONTAM HISTÓRIAS
Dias atrás publiquei um pensamento aqui no recanto,falando de “velhinhas que cheiram à violetas”.
Ao ouvir tocar no assunto,minha esposa enquanto almoçava olhou-me com ar apreensivo.Nada falou,mas o balanço da cabeça aliado àquele olhar “quase quarenta e três” foram suficientes para que eu concluísse o que deveria estar passando em seu pensamento:
-"Coitado!...Seu caso é preocupante."
Não satisfeito , e ainda percebendo coisas,inadvertidamente numa roda de amigos lancei a mais recente pérola de minha percepção:
-"Janelas contam histórias".
Foi o bastante para que olhares se cruzassem falando por mil palavras ,além do dedo indicador de um dos integrantes ter desenhado ao redor da sua orelha direita aquela famosa circunferência que traduzida quer dizer:
-"Pirou de vez !..."
Coitado,ou pirado,(o que pouco me importa) não abro mão de minhas percepções e
dou-me ao luxo de tentar interpreta-las. Assim...
Eis alguns “recados de janelas”:
Janelas estrábicas: Geralmente de madeira,em desalinho pelo tempo,são comuns em casas desabitadas.Na solidão do abandono,mergulhadas em longas esperas,espiam vazios.Buscam nos caminhos do tempo os passos de quem as habitou.Trancafiam atrás de si,lembranças de outras eras,de salas recheadas de vozes,luzes,gente ao redor da mesa,cotidianos que se renovavam.Desoladas e quase sem expectativas,rendem-se! Viciadas em cupins.
Janelas arredias: São comuns em habitações mais antigas (dos imigrantes do Sul,por exemplo).Esquivam-se atrás de arvoredos.Uivam uma soledade que é só delas.Então,você passa,as observa,e torna-se solidário .Com um pouco mais de sensibilidade é possível vislumbrar ,através de vidraças, imagens ilusórias ,de olhares perdidos remontando suas histórias.
Janelas misteriosas: Entreabertas,lentamente deixam arrastar-se ao vento no tecido de cortinas .E nesse vai e vem acortinado é possível criar um cenário de suspense.A sala quase na penumbra,restos de chá numa xícara de porcelana,um gato desconfiado sobre a poltrona,uma folha de papel na máquina de escrever.Ninguém pela sala.Datilografadas na folha as primeiras linhas de uma carta de despedida.
Janelas cordiais: São aquelas que parecem esboçar um sorriso à quem passa na rua.Falam de ventos,de plantas,de chuvas...Evocam bons papos,chimarrão , comadres.Abrem-se em cheiros :de almoços,de assados...E quando é natal,enchem-se de luzes e papai Noel.
Janelas indiscretas: Vivem abertas,parecem molduras.Há sempre um alguém em total vigilância.Olhar assuntante:Quem vai ? Quem vem?...Que trouxe?... O que traz?...Quem matou?...Quem morreu?...Quem amou?...Quem traiu?...
Janelas solidárias: Abrem-se tão próximas às janelas do vizinho...É pelo retângulo de suas formas que os braços esticam-se empunhando xícaras e o peito desabafa:”-Vizinha!...Me empresta açúcar!?
Janelas saudosistas: São aquelas que evocam lembranças sublimes ,de tardes amenas,de linhas de trens...De longos cabelos dançando na brisa,de sol,juventude,trinados na tarde...De cheiro de bolo de fim de semana,de ternas baladas,sonhos e emoções.De amores platônicos ardendo no peito e até um “mau jeito” de pisar o chão.
Janelas,janelas,janelas...Que abram-se todas às tardes, azuladas ou não, e contem felizes seus enredos e ternos segredos ao doce silêncio de beiras de estrada.
PS.Sou eu, agora , quem auto endereça-se,o desenho daquela conhecida circunferência ao redor da propria orelha direita KKKK......
Texto reeditado.
Preservados os comentários ao texto anterior:
13/08/2013 23:40 - EDSON PAULUCCI
NOTA DEZ. LOUCO É QUEM SÓ VÊ TRANCAS...PARABÉNS...
01/01/2013 15:01 - YARA FRANÇA
Se tu conhecesses o Nordeste, que é um imenso Brasil, acrescentaria janelas indiscretas ou escandalosas ou que são essas abertas de par em par, espiando a rua desavergonhadamente, pra captar o vento, a paisagem, o frescor e quiçá otras cositas más.
24/12/2012 03:15 - Chico Chicão
Meu caro Joelowsky das belezas polacas.Só os Poetas e Loucos conhecem a Solidão das Palavras.E como dizem tanta coisa!!! Ficou linda esta Loucura.Enquanto tivermos loucos como Você,o Mundo ficará um pouco melhor.Engraçado...temos uma empatia genial.Escrevi um texto para um filho meu:*O Presente* que fala justamente de janelas!!!!! Então somos dois loucos neste mundo aloprado.KKKKKKKKKKK Escreva mais loucuras,Joelowsky e nos faça mais felizes.FELIZ NATAL e um ANO NOVO cheio de realizações.Muito obrigado por suas palavras carinhosas.Fique na paz!
23/12/2012 11:51 - Nuria Monfort
Eu gostei. Nunca havia pensado nisto de "janelas contam histórias". Mas "vi" cada uma delas e suas histórias. Foi melancólico, foi alegre, foi solidário, foi muito bom.
21/12/2012 00:52 - Mgtcs
Extremamente criativo e inspirado seu texto! Não abra mçao de suas janelas jamais! Parabéns!
20/12/2012 09:58 - Geraldo Rodrix
Genial, bela inspiração, parabéns companheirinho...
Dias atrás publiquei um pensamento aqui no recanto,falando de “velhinhas que cheiram à violetas”.
Ao ouvir tocar no assunto,minha esposa enquanto almoçava olhou-me com ar apreensivo.Nada falou,mas o balanço da cabeça aliado àquele olhar “quase quarenta e três” foram suficientes para que eu concluísse o que deveria estar passando em seu pensamento:
-"Coitado!...Seu caso é preocupante."
Não satisfeito , e ainda percebendo coisas,inadvertidamente numa roda de amigos lancei a mais recente pérola de minha percepção:
-"Janelas contam histórias".
Foi o bastante para que olhares se cruzassem falando por mil palavras ,além do dedo indicador de um dos integrantes ter desenhado ao redor da sua orelha direita aquela famosa circunferência que traduzida quer dizer:
-"Pirou de vez !..."
Coitado,ou pirado,(o que pouco me importa) não abro mão de minhas percepções e
dou-me ao luxo de tentar interpreta-las. Assim...
Eis alguns “recados de janelas”:
Janelas estrábicas: Geralmente de madeira,em desalinho pelo tempo,são comuns em casas desabitadas.Na solidão do abandono,mergulhadas em longas esperas,espiam vazios.Buscam nos caminhos do tempo os passos de quem as habitou.Trancafiam atrás de si,lembranças de outras eras,de salas recheadas de vozes,luzes,gente ao redor da mesa,cotidianos que se renovavam.Desoladas e quase sem expectativas,rendem-se! Viciadas em cupins.
Janelas arredias: São comuns em habitações mais antigas (dos imigrantes do Sul,por exemplo).Esquivam-se atrás de arvoredos.Uivam uma soledade que é só delas.Então,você passa,as observa,e torna-se solidário .Com um pouco mais de sensibilidade é possível vislumbrar ,através de vidraças, imagens ilusórias ,de olhares perdidos remontando suas histórias.
Janelas misteriosas: Entreabertas,lentamente deixam arrastar-se ao vento no tecido de cortinas .E nesse vai e vem acortinado é possível criar um cenário de suspense.A sala quase na penumbra,restos de chá numa xícara de porcelana,um gato desconfiado sobre a poltrona,uma folha de papel na máquina de escrever.Ninguém pela sala.Datilografadas na folha as primeiras linhas de uma carta de despedida.
Janelas cordiais: São aquelas que parecem esboçar um sorriso à quem passa na rua.Falam de ventos,de plantas,de chuvas...Evocam bons papos,chimarrão , comadres.Abrem-se em cheiros :de almoços,de assados...E quando é natal,enchem-se de luzes e papai Noel.
Janelas indiscretas: Vivem abertas,parecem molduras.Há sempre um alguém em total vigilância.Olhar assuntante:Quem vai ? Quem vem?...Que trouxe?... O que traz?...Quem matou?...Quem morreu?...Quem amou?...Quem traiu?...
Janelas solidárias: Abrem-se tão próximas às janelas do vizinho...É pelo retângulo de suas formas que os braços esticam-se empunhando xícaras e o peito desabafa:”-Vizinha!...Me empresta açúcar!?
Janelas saudosistas: São aquelas que evocam lembranças sublimes ,de tardes amenas,de linhas de trens...De longos cabelos dançando na brisa,de sol,juventude,trinados na tarde...De cheiro de bolo de fim de semana,de ternas baladas,sonhos e emoções.De amores platônicos ardendo no peito e até um “mau jeito” de pisar o chão.
Janelas,janelas,janelas...Que abram-se todas às tardes, azuladas ou não, e contem felizes seus enredos e ternos segredos ao doce silêncio de beiras de estrada.
PS.Sou eu, agora , quem auto endereça-se,o desenho daquela conhecida circunferência ao redor da propria orelha direita KKKK......
Texto reeditado.
Preservados os comentários ao texto anterior:
13/08/2013 23:40 - EDSON PAULUCCI
NOTA DEZ. LOUCO É QUEM SÓ VÊ TRANCAS...PARABÉNS...
01/01/2013 15:01 - YARA FRANÇA
Se tu conhecesses o Nordeste, que é um imenso Brasil, acrescentaria janelas indiscretas ou escandalosas ou que são essas abertas de par em par, espiando a rua desavergonhadamente, pra captar o vento, a paisagem, o frescor e quiçá otras cositas más.
24/12/2012 03:15 - Chico Chicão
Meu caro Joelowsky das belezas polacas.Só os Poetas e Loucos conhecem a Solidão das Palavras.E como dizem tanta coisa!!! Ficou linda esta Loucura.Enquanto tivermos loucos como Você,o Mundo ficará um pouco melhor.Engraçado...temos uma empatia genial.Escrevi um texto para um filho meu:*O Presente* que fala justamente de janelas!!!!! Então somos dois loucos neste mundo aloprado.KKKKKKKKKKK Escreva mais loucuras,Joelowsky e nos faça mais felizes.FELIZ NATAL e um ANO NOVO cheio de realizações.Muito obrigado por suas palavras carinhosas.Fique na paz!
23/12/2012 11:51 - Nuria Monfort
Eu gostei. Nunca havia pensado nisto de "janelas contam histórias". Mas "vi" cada uma delas e suas histórias. Foi melancólico, foi alegre, foi solidário, foi muito bom.
21/12/2012 00:52 - Mgtcs
Extremamente criativo e inspirado seu texto! Não abra mçao de suas janelas jamais! Parabéns!
20/12/2012 09:58 - Geraldo Rodrix
Genial, bela inspiração, parabéns companheirinho...