Assim ou ...nem tanto.93
A Escola
-Tu. - Apontava para mim. E a paz, bruscamente abalada, trazia mais coisas com a insegurança de não saber a lição nem de me recordar de qualquer assunto que o professor tivesse ensinado. Era uma fragilidade sentir na pele tantos olhos fixos, ser, naquele mau momento, o centro do mundo difícil, sombrio. O medo das pancadas tolhia a necessária abertura de espírito para aprender. Os métodos eram terríveis. Muitas vezes as pernas pareciam de zebra por nelas haver marcas negras da vara e tudo o que poderia ser resposta certa eu decorava sem discernir, sem usar a inteligência brilhante que tinha, fora dali, em jogos e brincadeiras. E as palavras morriam todas na minha boca sem cor, o equilíbrio era precário, a cabeça ourada mal se aguentava sobre o pescoço fino. Vomitava antes das provas e chorava a humilhação de nem o que sabia conseguir dizer. – Diz à tua mãe, ao teu pai ou, enfim, ao teu encarregado de educação que venha falar comigo. E lá foi ela. Encararam-se num desafio mudo depois de um ligeiro aceno de cabeça por parte do mestre que tudo fazia para poupar palavras: - sabe, nem todos podem ser doutores. O rapaz é pouco menos que tonto. Ponha-o na oficina a ajudar o mecânico e se não quiser seguir este conselho o miúdo pode assistir às aulas mas, para mim, é como se faltasse sempre. Percebeu? – Mas, senhor professor, ele é esperto, por favor insista. Sei que, com paciência ele aprende. Não posso travar assim a vida dele. - Não adianta, minha senhora, o seu rapaz é burro. Muito burro. Afinal não era, digo eu.