CRER OU NÃO CRER, EIS O PEPINO
Em meu afã de resolver o quanto antes o impasse pessoal de minha indefinição no quesito “crença religiosa”, o que, segundo muitos – ou a maioria – é algo necessário e até indispensável à alma humana: “Ninguém pode viver sem uma crença!” é o que dizem – pensei, dias atrás: ou me converto de vez ao ateísmo; ou assumo o teísmo absoluto. Sim, teísmo absoluto é acreditar em todos os deuses, pois penso que se eu acreditar apenas em um, dois ou três (tipo Pai, Filho e Espírito Santo), ou meia dúzia, não acreditando em todos os outros, de qualquer modo serei um ateu, que não acredita na maioria dos deuses. Creio ser coerente, em me tornando adepto do teísmo, tornar-me politeísta integralmente. Até porque não me parece justo para com todos os deuses, adorar a um ou alguns e a todos os restantes não. Mas daí me ocorre um problema, difícil de resolver: em meu mergulho místico, visando um melhor conhecimento dos referidos entes divinos em busca de uma conversão coerente, deparei com a existência de mais de 2.000 deuses conhecidos (não incluídos nisso as incontáveis divindades hindus, apenas as 20 principais), estudados, catalogados e devidamente registrados em publicações e historiografias diversas. Além de outros que existiram (ou existem, pois um deus, diz a tradição, é eterno) e que não chegaram a ser catalogados, resistindo referências às suas existências através de relatos transmitidos por tradição oral. Como adorar e me dedicar, adequadamente, a mais de 2.000 deuses? E um deus não pode ser como amigos de Facebook, que você pode ter 1500, 2000, 3000 amigos sem precisar dar a mínima para a maioria deles e eles, do mesmo modo, não precisarem dar a mínima para você. Como invocar a todos esses deuses e adorá-los mediante louvores, pedidos, oferendas, sacrifícios ou orações, de modo equânime, sem privilegiar nenhum deles em detrimento de nenhum outro? E se eu cometer algum pecado muito grave e receber castigo de todos ao mesmo tempo? Estarei, sem sombra de dúvida, em péssimos lençóis. Por outro lado, se eu for bonzinho e todos os deuses me recompensarem ao mesmo tempo, vou ficar com a faca e o queijo na mão. Vale a pena o risco? Estou em dúvida. E após minha morte? Mais de 2.000 deuses disputando a posse desta minha pobre alma em seus reinos, cada um querendo me encaminhar a um de seus mais de 2.000 paraísos? Ou, pior, a seus mais de 2.000 infernos ou purgatórios. Pensando bem, é melhor ir com calma, dar tempo ao tempo, por enquanto deixar as coisas como estão. E os deuses que tenham paciência, que esperem e que me compreendam! Como bem dizia minha bisavó: “Uma decisão importante, a menos que se seja irresponsável e inconsequente, não se pode tomar sem mais nem menos. Da noite pro dia. De uma hora pra outra.“ Ainda mais se tratando de decisão que envolva a questão da eternidade. Não é mesmo?