ALUGA-SE EXPECTATIVA DE VIDA. TRATAR AQUI.

Toda vez que escuto ou leio “especialistas” tratando da velhice, sinto um ardência cocenta como se tivesse metido numa macega com urtiga.

Tanto quanto esses, ou pior, são os terapeutas do físico e os especialistas em dietas e medicamentos capazes de acabar com qualquer doença e com a gordura, sobretudo a da barriga.

Caminhar é preciso, dizem eles, ficar parado não faz bem para o corpo e para a alma e o espírito, essas duas “coisas” racionalmente inexplicáveis. Já corri três maratonas, corri pra lá e pra cá, andei pra cima e pra baixo e agora, apesar de não passar dos 80 Kg, me arrasto como quem carrega uma tonelada. Dizem que deve ser o peso total de todas as bobagens, erros e outros dejetos que fiz acumulados. Talvez!

Como fazer exercícios numa academia com aquela música tribal, tola e repetitiva aturdindo meus desgastados neurônios?

Como andar pelas alamedas do parque meu vizinho apoiado numa bengala para diminuir o peso de hérnias de disco da coluna e do fêmur ralando o encaixe do meu quadril?

Tem mais. Mas não contarei, pois a piedade me incomoda mais do que tudo isso, afinal, já superei um câncer. È o que dizem os médicos. Talvez!

Assim sendo, por essas e por outras, é que prefiro livros, vinhos e música que além de ser mais prazeroso é melhor e mais seguro. A rua para a maioria de nós, os velhos, é perigosa.

Além de me incomodar com a piedade, que atualmente vive uma relação sinonimoafetiva estável com o compadecimento, tenho que suportar os substantivos diminutivos, tanto analíticos quanto sintéticos, esses, exageradamente, tentando me agradar.

Assim o que tenho o que uso ou o que faço é devagarinho, cabelinho, camisinha, cadeirinha, sandalinha, comidinha, bermudinha, saidinha, barbinha, banhinho... e outras inhas e inhos. Exceto um determinado ão que não costuma aparece em público. Quem já viu sabe.

Isso não é uma reclamação, mas, sim, uma constatação, embora insignificante, verdadeira. Porém, nem todos se ocupam disso, muitos sequer percebem. Eu, não deixo de ver o que está a um palmo do meu nariz; ou narizinho, se preferirem.

Sobre política, o que anda acontecendo mundo a fora, nem me bate a passarinha, pois de Jânio Quadros a Fernando Collor os acontecimentos me envolveram ativamente por dever de ofício. De lá pra cá é apenas mais, muito mais, do mesmo com outras técnicas, outras ferramentas e instrumentos de acordo com seu tempo; esse tempo.

Sobre tolices e outras insignificâncias do “new journalism” de Pindorama (que não é o de Gay Talesse, Normam Mailer, Trumam Capote e outros) que circula altivo e “suposto” impresso ou internético e ecoa em alto e bom som, “passo” – como se faz no pôquer.

Mas logo adiante me deparo com os “especialistas” em velhos (que são muitos em todo o mundo) e suas práticas experimentais que dão certo (!).

Na Holanda num condomínio exclusivo para idosos eles ‘‘podem desfrutar de diversas comodidades como um pequeno supermercado, um teatro, um restaurante, um salão de beleza, um café, além de diversas atividades como clubes de jardinagem, música e pintura.” Eles porem sofrem de demência severa como Alzheimer e Parkinson, e por isso são vigiados 24 horas. Diz ainda a matéria da revista que “dentro do bairro (era condomínio?) eles possuem ampla liberdade...a vila (?) possui,jardins,fontes e praças.”

Sei que condomínio, bairro e vila não é a mesma coisa e não entendo como velhos com demência severa podem ter AMPLA LIBERDADE. O fato e o texto são...idiotas.

E mais: uma pesquisa realizada em 2013(!) pela University College de Londres descobriu que “o isolamento social traz muitos malefícios aos idosos, entre eles, a diminuição da expectativa de vida e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e infecciosas.”

Como todos sabem não é o isolamento social o malefício que determina diminuição da expectativa de vida. A expectativa de vida é um dado estatístico que estima quanto tempo pessoas de determinada idade viverão em específico local. É índice calculado de acordo com a saúde e as condições de vida de uma população, entre outros, como doenças e acidentes.

No Brasil é o IBGE que determina esse índice, ou seja: em média, quantos anos é a expectativa de vida dos brasilinos. Atualmente é de 74 anos. Já passei dessa idade e os anos que sobram são meus e não dou, nem empresto pra ninguém; mas posso alugar esse saldo desde que a propina seja bem lavadinha, para que eu viva por um bom tempo com saúde e sem especialistas enchendo meu divino saco. E que seja igual ou superior a do atual valor de mercado. Em dólares limpinhos numa continha bancaria em Miami.

CESAR CABRAL
Enviado por CESAR CABRAL em 23/05/2017
Código do texto: T6007214
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