O melhor do Brasil são os brasileiros
 
          Trabalho sozinho em uma sala isolada no último andar de um edifício comercial. Não! Isso não é um lamento, porque batalhei anos a fio até conquistar essa enorme vantagem que é ter um ambiente sossegado, absolutamente sob controle e sem ninguém mais por perto para atrapalhar.

          Todavia, vez por outra, desço até o pátio do prédio para tomar um ar, ver o dia a céu aberto e esticar as pernas. Por lá reúnem-se vários motoqueiros que trabalham para uma agência de entregas que é sediada em outro andar no mesmo edifício.

          Hoje à tarde presenciei, à distância, uma resenha interessante sobre os pontos de vista de cada um a respeito dos problemas políticos e econômicos que assolam a nação brasileira e suas possíveis soluções.

          Ah! Estes nossos tempos são de dar nojo! Deveriam substituir o nome da “Voz do Brasil” para a “Voz do Plasil”, porque só assim para enfrentar tanta bandalheira.

          Um dos valentes motoboys apregoava que Lula iria voltar com tudo – e falava isso como se anunciasse a volta de Nosso Senhor Jesus Cristo. O outro, obviamente no polo oposto do espectro político, prenunciava que, do jeito que as coisas estão, em breve, os militares haveriam de sair dos quartéis e assumir o comando para restaurar a ordem e o progresso. O terceiro, indisfarçavelmente evangélico, dizia crer na força da palavra, na fidelidade de Deus e que tudo transcorreria da melhor maneira apenas para aqueles que tivessem escolhido o caminho traçado nas sagradas escrituras.

          Não esperei o fim daquele curioso embate de ideias e me pus no caminho de volta ao meu tugúrio. Ainda no elevador, pensava eu com meus botões que o país está desgovernado porque os brasileiros, seus modos e sua cultura, são fruto da miscigenação do nonsense com a ignorância. Desdenhei!

          Já no seguro refúgio de minha escrivaninha, atinei que todos lá embaixo tinham, enfim, algo em comum que, de fato, é o verdadeiro traço do povo brasileiro. Um acreditava num salvador da pátria, o outro apostava tudo em uma instituição militar sucateada e o terceiro nem cogitava em duvidar que a providência divina tem, sim, seus escolhidos. Ou seja, de uma forma ou de outra, todos demonstraram ter algum tipo de fé, que é o que os mantém de pé e lutando.

          E eu? Não tenho resposta para nenhum dos problemas e, ainda, já não acredito em quase mais nada. Olhei-me no espelho e... Desdenhei!