Mudança de pele
Um casal de jovens no amplo jardim do nosso Condomínio. Dezesseis, dezenove? Talvez. Como a área é extensa, quase que não vemos os dois a certa distância. Porque eles estão mais no interior do jardim, afastados da calçada. Como requerem as confidências e breves intimidades que podem trocar.
Ainda é relativamente cedo. 9 da manhã. Se lhes fosse permitido, eles ficariam por ali até às 17h ou mais. É incrível o número de trocas de palavras, de assuntos que surgem. Tipo, ficarmos indefinidamente um olhando nos olhos do outro sem nada dizer. Ou reparando no tamanho da testa, no contorno dos olhos, no comprimento dos cabelos.
Já vivemos tudo isso, pensamos, nós aqui de longe, e bem longe dos dezenove. E como achávamos bonito. Do mesmo jeito que agora não achamos tanto.
Quanta coisa acontece no intervalo. As mãos antes sempre dadas, agora às vezes custam a se encontrar. Os assuntos precisam da presença de um casal de amigos para que possam interessar. E perder todo aquele tempo no recôndito de um espaçoso jardim àquela hora da manhã, nem pensar.
Envelhecemos, por certo. Mas o amor envelhece? Juramos que não. Mas por certo muda de estatura. Ou de textura a pele.
Rio, 03/05/2017