Os Versos de Um Museu
Versos e reversos. Lado direito e lado avesso, como uma trama de um tecido, é assim a construção do saber, do conhecimento. “O homem é filho de seu tempo” afirmam os filósofos. Produzimos verdades conforme as ideologias que as sucessivas gerações acreditaram. Por isto a VERDADE nunca é absoluta. Ela é um diamante lapidado conforme o ângulo que se vê.
Há quem pensa no museu como templo das coisas sacralizadas de um tempo. Esta visão está mudando, cedendo lugar para outra versão: aquela de que um museu deve pôr à prova a verdade e mostrar versões da construção do conhecimento humano.
Isto ficou bem claro no minicurso ministrado no museu Mariano Procópio em Juiz de Fora cuja temática foi “Repensando os Museus Históricos na Contemporaneidade: o acervo do museu Mariano Procópio”.
Aprendemos que “Não há museu inocente” como queria o Positivismo de Augusto Comte, que sugeria a neutralidade do historiador. Não há inocência por que um museu apresenta conhecimentos construídos por discursos históricos. E o conhecimento é aquilo que as perguntas suscitam e não as respostas prontas.
Em vez de os museus históricos serem lugares contemplativos e de admiração eles são laboratórios de memórias. E as Memórias são sempre seletivas. São regidas por duas perguntas básicas: O que lembrar? O que esquecer?.
O museu Mariano Procópio teve a origem segundo a ideologia de uma monarquia. Uma de suas peças em exibição é uma estatueta da princesa Isabel com a Lei Áurea na mão. Ela é apresentada como uma santa em pedestal tendo aos seus pés um escravo de origem africana. Enquanto os ares da princesa inspiram superioridade a do escravo inspira imbecilidade e malandragem. Retrata assim a ideologia do século 19 em que os dominadores de origem europeia eram vistos como intelectualmente superiores às demais etnias.
A estatueta exalta a benesse da abolição da escravatura como feito máximo daquela dinastia que dominava o país. A estatueta é somente uma peça artística que apresenta um ângulo da verdade.
O Museu Mariano Procópio ao longo do século 20 definiu-se por ser um museu histórico. Além de peças artísticas expostas ele possui também documentos escritos que ficam guardados e apresentados somente a pesquisadores. Um museu não é um circo ou um parque que apresenta coisas espetaculares ou é só lugar de lazer.
Entre documentos escritos há jornais da época da abolição da escravatura e ocorrências policiais.
Foi mostrado um destes documentos em que se pedia ao governo tomar providências dada o aumento de violências praticadas à época. A recém-mão-de-obra libertada das fazendas ficava vagando e assaltando na região porque o mercado de trabalho não absolveu estes ociosos. Piorando este quadro social, do final do século 19, havia sido incentivada a imigração de italianos. E muitos também vadiavam enquanto aguardavam trabalho. A medida tomada por aquela princesa não resolvia todos os males. Houve o agravamento apenas com a proposta social desestruturada e não planejada por esta elite para o trabalhador.
Não basta expor peças artísticas repletas de ideologia de uma classe social. Tem-se que confrontar arte com documentos da época para que as verdades de cada segmento social sejam analisadas. É assim que um museu desta natureza produz a História de uma época. A função de um museu histórico é produzir conhecimento.
A construção do conhecimento é feita pela aproximação e/ou estranhamento gerado por objetos, testemunhos materiais e imateriais dos povos e seus ambientes.
Versos e reversos. Lado direito e lado avesso, como uma trama de um tecido, é assim a construção do saber, do conhecimento. “O homem é filho de seu tempo” afirmam os filósofos. Produzimos verdades conforme as ideologias que as sucessivas gerações acreditaram. Por isto a VERDADE nunca é absoluta. Ela é um diamante lapidado conforme o ângulo que se vê.
Há quem pensa no museu como templo das coisas sacralizadas de um tempo. Esta visão está mudando, cedendo lugar para outra versão: aquela de que um museu deve pôr à prova a verdade e mostrar versões da construção do conhecimento humano.
Isto ficou bem claro no minicurso ministrado no museu Mariano Procópio em Juiz de Fora cuja temática foi “Repensando os Museus Históricos na Contemporaneidade: o acervo do museu Mariano Procópio”.
Aprendemos que “Não há museu inocente” como queria o Positivismo de Augusto Comte, que sugeria a neutralidade do historiador. Não há inocência por que um museu apresenta conhecimentos construídos por discursos históricos. E o conhecimento é aquilo que as perguntas suscitam e não as respostas prontas.
Em vez de os museus históricos serem lugares contemplativos e de admiração eles são laboratórios de memórias. E as Memórias são sempre seletivas. São regidas por duas perguntas básicas: O que lembrar? O que esquecer?.
O museu Mariano Procópio teve a origem segundo a ideologia de uma monarquia. Uma de suas peças em exibição é uma estatueta da princesa Isabel com a Lei Áurea na mão. Ela é apresentada como uma santa em pedestal tendo aos seus pés um escravo de origem africana. Enquanto os ares da princesa inspiram superioridade a do escravo inspira imbecilidade e malandragem. Retrata assim a ideologia do século 19 em que os dominadores de origem europeia eram vistos como intelectualmente superiores às demais etnias.
A estatueta exalta a benesse da abolição da escravatura como feito máximo daquela dinastia que dominava o país. A estatueta é somente uma peça artística que apresenta um ângulo da verdade.
O Museu Mariano Procópio ao longo do século 20 definiu-se por ser um museu histórico. Além de peças artísticas expostas ele possui também documentos escritos que ficam guardados e apresentados somente a pesquisadores. Um museu não é um circo ou um parque que apresenta coisas espetaculares ou é só lugar de lazer.
Entre documentos escritos há jornais da época da abolição da escravatura e ocorrências policiais.
Foi mostrado um destes documentos em que se pedia ao governo tomar providências dada o aumento de violências praticadas à época. A recém-mão-de-obra libertada das fazendas ficava vagando e assaltando na região porque o mercado de trabalho não absolveu estes ociosos. Piorando este quadro social, do final do século 19, havia sido incentivada a imigração de italianos. E muitos também vadiavam enquanto aguardavam trabalho. A medida tomada por aquela princesa não resolvia todos os males. Houve o agravamento apenas com a proposta social desestruturada e não planejada por esta elite para o trabalhador.
Não basta expor peças artísticas repletas de ideologia de uma classe social. Tem-se que confrontar arte com documentos da época para que as verdades de cada segmento social sejam analisadas. É assim que um museu desta natureza produz a História de uma época. A função de um museu histórico é produzir conhecimento.
A construção do conhecimento é feita pela aproximação e/ou estranhamento gerado por objetos, testemunhos materiais e imateriais dos povos e seus ambientes.
Leonardo Lisbôa.
Juiz de fora, 18/05/2017.
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