Presença de Célia Maria Carolino Pires
Escrevo essas linhas para compartilhar a tristeza com que recebi a notícia do falecimento da professora Célia Maria Carolino Pires, protagonista da história recente da Educação Matemática brasileira. A todos os seus familiares, amigos e colegas, quero lembrar de uma lição que ela tanto valorizou. Um dos nossos maiores desafios consiste em entender os polos opostos de uma questão. Estamos diante da tarefa imponderável de pensar sobre as relações entre vida e morte, presença e ausência, objetividade e subjetividade e uma série de outras dualidades com as quais convivemos.
Ao invés de apenas chorar sua ausência física, devemos ressaltar sua presença que permanecerá perene na memória de todos que puderam conhecê-la, pessoalmente, ou através de suas obras que transcenderão ao seu tempo de existência terrena. Ela partiu deste mundo, mas continuará viva entre nós, alimentando a nossa comunidade e os ideais daqueles que estão empenhados em superar os tempos da modernidade.
Não tive oportunidade de enviar uma palavra para a colega, nos últimos anos, e, nem mesmo, nos momentos mais difíceis. Tento preencher um pouco essa lacuna com essas frases para ressaltar o óbvio: a importância do seu trabalho para a constituição da educação matemática no Brasil. A nossa colega foi uma das pioneiras na reinvenção coletiva da educação matemática. Há tempos que ela estava empenhada em superar os limites da linearidade ou da formalidade redutora com que alguns ainda insistem em pensar o ensino. Fez isso com maestria, sem deixar de valorizar as múltiplas identidades que aproximam ou podem aproximar os educadores matemáticos.
Nem sempre paramos para falar da qualidade de um colega ou da importância do seu trabalho. É preciso lembrar o quanto aprendemos com a brilhante autora de livros e textos acadêmicos que indicam caminhos inovadores para a superação de problemas persistentes. Quanto à organização dos conteúdos de ensino, tive a oportunidade de lhe dizer, pessoalmente, a riqueza de uma de suas coleções de livros didáticos.
A colega soube escrever aquilo que muitos de nós gostaríamos de ter escrito. Soube mostrar a existência de múltiplas redes e trilhas para repensar o ensino clássico. Por todos esses motivos terás, querida colega, eterna presença em nossos corações.