A BRIGITTE QUE NUNCA FOI BARDOT

      Brigitte... Brigitte... Pois é; gente que é parte da crônica de uma cidade, seja de que tipo de crônica for, ao morrer como no caso dela, virar "purpurina", deixa saudades...
      E Brigitte deixou. Ao menos em mim que, embora não à tenha comido ou sido comido por "ela"... Afinal Brigitte era Travesti e seu ganha pão era fazer programas, como não sentir saudades de uma figura tão alegre e cheia de vida na dura madrugada?
      Embora Brigitte dispense apresentações, sinto-me obrigado como historiador amador a descrevê-la, acho que é uma homenagem justa. Brigitte era uma pessoa alta, sem salto luís quinze, que ela adorava usar, deveria ter pelo menos 1.75 m, era alta, alva, sempre bronzeada, meio nariguda apesar dos traços finos, tinha uma bundinha até avantajada e bonitinha, e seios de silicone avantajados, sempre trajava-se a não deixar dívidas em seus possíveis clientes do que ela era... o que ela fazia... Mas o que realmente destacava Brigitte era seus cabelos louros, galega toda!
      Uma das coisas que também era uma marca registrada de Brigitte era a sua personalidade. Brigitte, tinha um gênio para lá de forte, era opiniosa e boa de briga, eu diria que quase uma Madame Satã natalense, excluindo-se aí que Brigitte não era dada ao crime e nem mesmo a violência, a não ser é claro, que alguém resolvesse "frescar com a cara dela". Aí Brigitte mostrava que era boa de briga!
      Naquela época eu frequentava muito uma boite existente em Ponta Negra chamada "Flash". Eu tinha um verdadeiro farnizim, uma tara para ir para a Flash pelo menos nas domingueiras. Mas por mim? Ah, eu começaria a ir logo nas quintas-Feiras!
      Era na volta da Flash que eu travei meus primeiros contatos com Brigitte ali, nas paradas de ônibus da BR- 101, que naquela época, eram um deserto só. No começo, eu ficava olhando aquela figura falando sozinha meio assustado, depois eu comecei a notar que, na verdade, Brigitte fazia aquilo como um dispositivo de defesa caso alguém presente ali, fosse um agressor...
      Com o tempo, Brigitte foi percebendo que eu não era uma ameaça e que, na verdade eu é que estava assustado com aquela figura que ela representava. Não tardou muito e uma certa madrugada eu rompi o silêncio e iniciamos uma conversa. E assim foi durante pelo menos uns dois anos, toda vez que eu vinha da Flash, lá estava Brigitte encerrando o seu expediente ou na expectativa de seu derradeiro cliente.
      Eu me lembro que em nossas conversas regadas a muito riso e deboche, Brigitte contou-me que muitos de seus clientes era figuras ilustres e famosos do cenário político, empresarial, judiciário e de profissionais autônomos em geral. Na verdade, Brigitte chegou a citar muito nomes de gente famosa daqui do Estado, gente que hoje tem lindos discursos moralistas mas que, segundo Brigitte, passaram pela sua alcova... Bem, em que posição eu não sei... E faz lá mais alguma diferença? Afinal, se alguém quiser aprofundar a questão cai em uma "armadilha" e vira refém de seu próprio discurso... Melhor não né?
      Os anos passaram... Um dia, eu soube que Brigitte havia sido assassinada. Não houve alarde sobre o crime que lhe tirou a vida, Brigitte virou purpurina, Brigitte só não esperava virar somente estatística... Talvaz por que Brigitte sabia demais sobre os discursos falsos moralistas de seus clientes chiques, pois os pés-sujos, não estavam nem aí.
      Seu enterro foi em um dia chuvoso, estavam presentes ela, a defunta. uma amiga de batalha, um parente e o coveiro...
E Brigitte se foi, sem fazer o que ela mais gostava... Zuada.
ELIZIO GUSTAVO MIRANDA DOS SANTOS
Enviado por ELIZIO GUSTAVO MIRANDA DOS SANTOS em 16/05/2017
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