SUZY, UMA CACHORRA MUITO ESPECIAL
SUZY, UMA CACHORRA MUITO ESPECIAL
Minha família morava na esquina de Benjamin Constant com a rua XV de Novembro onde hoje está uma torre de um monte de andares. Era uma casa ampla, dentro de um terreno enorme com vários pés de jaca, mangueiras e um gramado bem cuidado.
Cheguei em casa e minha mãe havia trazido um novo personagem para nossa família. Olhei em baixo da mesa e vi uma cachorra suja de graxa, deixando entrever uns nacos de pelo branco. Havia ficado escondida embaixo de um bonde e se besuntara com a graxa dos trilhos. Foi outro caso de amor ao primeiro latido. Depois lhe dar um banho, descobri que era uma cachorrinha branca, com nariz marrom, dentuça com os dentes inferiores expostos, o que lhe dava uma ar de petulante. Rapidamente Suzy se adaptou ao novo lar, como todo vira lata que se preze. Logo percebemos que era muito esperta e ativa. Vivia correndo pela casa, jamais fez suas necessidades dentro de casa. Quando a coisa apertava, dava um jeito de escapar pelo portão, fazia o que tinha de fazer e voltava lépida. Nada de coleira, ser levada por um humano. Era totalmente independente. Logo se agarrou comigo e passou a ser minha babá. Era companheira de todas as horas, me seguia por onde eu ia. Só para a escola que não me acompanhava. Acho que já possuía diploma. Às refeições, Suzy sentava no chão ao meu lado com um olhar pidão irresistível. Com a boa vida foi ficando fresca que só ela. Pão, só com manteiga, carne e um ossinho para roer de vez em quando. Quando eu dava pão sem manteiga, ela empurrava com o focinho para um canto e voltava a pedir. Outras comidas nem pensar. Passou a ser uma espécie de sombra minha e só obedecia a mim. Ia à praia comigo e eu a deixava na areia para nadar. Suzy sentava e ficava esperando eu entrar na água, olhar atento em mim, parecia dizer: “-O que esse cara vai fazer?”. Eu nadava por uns 20 minutos e, quando voltava a praia Suzy estava em pé a beira d´àgua, toda molhada, me procurando, olhando o mar e pulando aquelas ondinhas que se desmancham na areia. Muitas vezes havia algumas pessoas em volta dela, admirando a cena. Eu saía d´`agua, ela dava vários rdodopios de alegria, dava umas cheiradas e lambidas na minha perna. Depois de se certificar que era eu mesmo abanava a rabo e só faltava dizer “vamos para casa!”
Mudamos para um sobrado na Rua Marques de São Vicente, onde passei a frequentar a Pracinha. Suzy, obviamente, foi junto. Havia um serviço da Prefeitura que recolhia animais que encontravam na rua sem licença. Isso mesmo, cachorro tinha que ter uma plaquinha na coleira com um número. Se não tinha, a famigerada Carrocinha laçava os bichos e levava. Se não fossem procurados em alguns dias no canil da Prefeitura, falava-se que matavam os animais apreendidos. Era um horror. Suzy rapidamente aprendeu a reconhecer aqueles laçadores de cachorros e era mestra em se esconder pulando a mureta de nossa casa. Tive sérios atritos com esses caras e por duas ou três vezes peguei Suzy com laço no pescoço, tirei e quase sai no tapa com os laçadores. Outra vez, não teve jeito. Suzy já estava na jaula e tive que ir ao Canil e retirá-la. Certa vez, Suzy pulou da janela superior do sobrado e saiu para seu passeio matinal, pois não havia ninguém em casa para abrir a porta. Em 1960, fui passar uns quinze dias no Rio de Janeiro na casa de um amigo de meu pai. Na volta, a primeira coisa que fiz foi procurar a minha querida. Minha mãe disse que havia sido atropelada por um ônibus, na Praça do Correio. Suzy morrera.